É de espantar os danos das telas à saúde das crianças

Região – Bebês de até 2 anos de idade não devem ser expostos a nenhum tipo de tela, em qualquer circunstância. Essa afirmação pode espantar e levantar questionamentos, mas é essa a linha de pensamento que vem surgindo com força entre pediatras, pesquisadores e pais preocupados com a extensa lista de problemas que essas tecnologias podem causar aos pequenos, persistindo durante toda a infância.

A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria já atestaram que bebês, até 2 anos, não devem ter qualquer exposição à tecnologia. Para crianças entre 3 e 5 anos deve ser restrito a 1h por dia, e para crianças de 6 a 18 anos, o acesso deve ser de, no máximo, 2 horas diárias. No Brasil, segundo Thiago Longhi, pediatra e coordenador da pediatria do Hospital de Sapiranga, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou, em 2016, um conjunto de orientações em defesa da saúde das crianças e adolescentes na era digital, indo ao encontro das recomendações dos estudos norte-americanos e canadenses.

“Os pediatras desencorajam e pedem para que seja evitada ou, até mesmo proibida, a exposição passiva às telas digitais. Crianças menores de dois anos não devem ser expostas às telas e, os maiores, devem ter um controle da quantidade de horas que ficam em frente às telas, evitando principalmente a exposição durante as refeições ou nas horas que antecedem o sono”, pontua Longui.

Existem 10 razões pelas quais as telas devem ser proibidas para as crianças. Dentre elas está o crescimento rápido do cérebro, que quando causado por exposição excessiva à tecnologia afeta negativamente o funcionamento e causa déficit de atenção, atrasos cognitivos, aprendizagem deficiente, aumento da impulsividade e diminuição da capacidade de autocontrole – como o excesso de birras. Também uma epidemia de obesidade e consequente desenvolvimento de doenças, encurtando drasticamente a expectativa de vida. Agressividade é outro ponto. Crianças cada vez mais expostas à incidência de violência nas telas resulta em agressividade descontrolada. A demência digital é causada pelo conteúdo de alta velocidade, o que contribui para o déficit de atenção e diminuição da concentração e da memória, pois o cérebro elimina trilhas neurais no córtex frontal e a criança não consegue prestar atenção, e por consequência, não aprende. Os vícios também estão na lista. Isso porque como os pais ficam cada vez mais presos à tecnologia, se desapegam dos próprios filhos, que na ausência de apego dos pais, acabam se conectando aos dispositivos, o que pode gerar dependência.

Pediatra aponta razão para mudança

São dez as razões levantadas como motivos para banir as telas da vida das crianças – desde o atraso no desenvolvimento até a emissão de radiação e a insustentabilidade. O pediatra Thiago Longhi concorda com todas e ainda destaca duas, em especial, que observa com frequência em seu consultório. “A aprendizagem deficiente e obesidade. Entre as consequências da exposição excessiva às telas estão: o aumento da ansiedade, a dificuldade de estabelecer relações em sociedade, o estímulo à sexualização precoce, a adesão ao cyberbullying, o comportamento violento ou agressivo, os transtornos de sono e de alimentação, o baixo rendimento escolar, as lesões por esforço repetitivo e a exposição precoce a drogas. Todos com efeitos danosos para a saúde individual e coletiva, com graves reflexos para o ambiente familiar e escolar”, destaca.

Médicos e pesquisadores defendem o retorno de métodos de ensino e recreação anteriores ao uso da tecnologia, como utilização de brinquedos, quebra-cabeças, desenhos, e o próprio diálogo, pois é preciso desenvolver a percepção, raciocínio e incentivar a aprendizagem. “Existem benefícios e prejuízos vindos da tecnologia, o desafio é saber usá-las na dose certa”, pontua Thiago, destacando o papel fundamental do pediatra. “Pelo respeito e confiança que recebe das famílias, o pediatra pode ser o agente de mudança ao orientar os pais, pode programar um plano de “dieta midiática”. É muito importante a orientação sobre os riscos desta exposição excessiva”, salienta Longhi.

Texto e fotografia: Sabrina Strack