Construção de empreendimento às margens da RS-239, em Campo Bom, gera descoberta de tocas de preguiça gigante

Campo Bom – Uma descoberta fantástica, que remete há mais de 10.000 mil anos colocou o município, definitivamente, no mapa dos animais pertencentes à megafauna brasileira.

Com a movimentação de aterro em uma propriedade para a construção de uma empresa do segmento da construção civil, fendas exatamente no meio do solo (semelhantes a tocas e túneis) despertaram a atenção de biólogos que circulam pela rodovia diariamente: “Um biólogo que trabalha na prefeitura de Nova Hartz contatou o nosso biólogo e fez o alerta. Viemos até o local e de imediato e o biólogo da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), de cara, atestou que ou era uma toca de um tatu-gigante ou de uma preguiça gigante”, relembra o secretário de Meio Ambiente, João Flávio Rosa.

Imediatamente, obedecendo aos critérios técnicos, a Sema os técnicos do Instituto de Geociências da UFRGS, no início de janeiro, e no dia seguinte o professor, Heinrich Frank, veio até o município e confirmou a suspeita: as fendas, realmente, foram escavadas por preguiças gigantes, animais que procuravam locais de relevos médios: “Esses mamíferos procuravam morros nem muito altos e não muito baixos com algum tipo de inclinação e locais que pudessem ser escavados”, contextualiza o professor Heinrich Frank.

Local não possuía fósseis e obra terá prosseguimento

João Flávio Rosa revelou que na captação de campo efetuada pelo professor, foram captadas diversas imagens fotográficas para apoiar os estudos na UFRGS sobre as paleotocas: “Não encontramos nenhum fóssil no local. Assim, a descoberta vai para um banco de dados que possui mais de 600 locais como esse mapeados no Rio Grande do Sul. Do ponto de vista histórico e de pesquisa, a descoberta possui uma importância enorme. A paleotoca descoberta, em Campo Bom, possui ranhuras aparentes e um dos túneis escavados pela preguiça gigante, com sete metros de extensão”, explica o secretário.

Importante ressaltar, que mesmo com a descoberta, a construção do empreendimento não sofrerá nenhum tipo de restrição. A Prefeitura de Campo Bom emitiu um documento liberando a continuidade das obras no local: “Garantimos ao empreendedor a continuidade da implantação do empreendimento”, cita.

Projeto Paleotoca pela região

O geólogo do Instituo de Geociências da UFRGS, Heinrich Frank, relembra que em 10 anos de atividade do Projeto Paleotoca da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foram catalogadas tocas de preguiças gigantes em Novo Hamburgo, Estância Velha, Sapiranga e Nova Hartz: “Estes são os únicos animais desta magnitude que poderiam cavar túneis. As preguiças possuíam entre 800 quilos e chegavam até cinco toneladas, mas possivelmente, as maiores não escavavam”, garante o professor, que já catalogou aberturas iguais a de Campo Bom, no sul de Santa Catarina.

Foto: Deivis Luz.