Chuva em excesso não é o único “vilão” dos alagamentos

Campo Bom/Sapiranga – Na última semana, as cenas mais comuns vistas nos municípios da região como Sapiranga e Campo Bom foram de ruas tomadas pela água, arroios transbordando, pessoas ficando “ilhadas” embaixo de viadutos, muros caindo e casas sendo alagadas.

Com base nestas cenas, o Jornal Repercussão, que acompanhou tudo e registrou os fatos, buscou compreender o porquê de isto acontecer. Foram contatadas as prefeituras, bombeiros da região e até o climatologista responsável pela estação meteorológica de Campo Bom, Nilson Wolff, em busca de possíveis soluções.

Rua Beija Flor, no bairro 4 Colônias Campo Bom | Foto: Arquivo JR

De acordo com Wolff, da noite de sexta-feira, 8, até às 9 horas do sábado, 9, o percentual registrado foi muito alto no Vale dos Sinos, e a Estação Climatológica de Campo Bom, do INMET, registrou 102 milímetros de precipitação. “Esse volume corresponde a 82% da média de março em menos de 24 horas”, explicou, sendo que na chuvarada anterior foram outros 52,2 milímetros.

Com muita chuva em um curto espaço de tempo, os alagamentos são esperados, mas outras situações também resultam nisso, como jogar lixo nos arredores das ruas, e até construções e tubulações entupidas, mal otimizadas, ou até inexistentes em alguns locais.

 

 

 

Em Campo Bom, por exemplo, a Secretaria de Obras realiza um levantamento para atacar a situação.

“Já temos esse levantamento, mas, infelizmente, algumas soluções não são tão simples. Outros casos não têm solução pois são construções edificadas em locais inadequados, em que antigamente havia alguma área de banhado ou algo do tipo, são situações, em sua maioria, mais antigas. Estamos fazendo algumas intervenções, conforme possibilidades. As mais recentes são na lateral da Av. dos Municípios, no Bela Vista, lateral da Av. dos Municípios na Cohab Sul, Av. dos Estados próximo às quadras do parcão, Av. Olemar Heinsohn, Av. José Bonifácio, Av. 17 de Abril, entre outros”, destaca Patrick Ruppental, Secretário de Obras da cidade.

 

Em Sapiranga, por exemplo, situações de não cumprimento de ações, como a instalação, ampliação e até ligação da tubulação das ruas laterais à RS-239, resultou no alagamento, além de lixo jogado nas ruas.

Ações de Campo Bom

De acordo com o Secretário de Obras, de Campo Bom, Patrick Ruppenthal de Lima, o município trabalha de maneira preventiva para evitar maiores transtornos, mas que algumas situações são decorrentes da rede da cidade ser muito antiga. ” Fazemos hidrojateamento de redes de forma contínua e preventiva. Atuamos todos os dias na substituição de redes, consertos de redes quebradas, execução de novas bocas de lobo, etc”, disse o Secretário, em nota enviada à redação. Mesmo assim, se alerta que as redes do município são muito antigas, e que estão sendo realizadas ações para melhorar. “Contudo, a rede da cidade, como um todo, é muito antiga e subdimensionada. Por muitos anos, pouco se investiu nesse sentido e inclusive, em outras administrações, sabemos que foi perdido recurso para tanto. Hoje, não há recursos para fazer tudo de uma vez. Estamos fazendo dentro das possibilidades. É importante que a população ajude não colocando lixo e materiais de construção próximo a arroios, bocas de lobo, etc, e denunciando quem o fizer”, declara o Secretário de Obras, Patrick Ruppenthal.

Arroio Schmidt

Arroio Schmidt, entre as Avenidas Adriano Dias e dos Estados, próximo ao Ginásio Municipal

O Arroio Schimdt, de Campo Bom, foi um dos pontos de grande notoriedade após as chuvas que atingiram por duas vezes a região. Com o transbordo, as ruas laterais, Avenida Adriano Dias e Avenida dos Estados ficaram completamente tomadas pelas águas marrons que vinham do arroio.

 

 

 

 

 

 

 

Muros caídos

Proprietários de duas residências em regiões próximas do Loteamento Firenze, registaram prejuízos com a chuva. Na rua Zenaide Ventura Martins, 74, um muro de mais de três metros de altura caiu sobre o pátio da residência ao lado com a chuvarada. Na Rua Odanilo Rambor, outro muro caiu, nas mesmas circunstâncias.

Situações em Sapiranga

Viaduto da Kennedy

Abaixo do Viaduto localizado na Avenida Presidente Kennedy, a situação para motoristas, motociclistas e até pedestres ficou complicada. Isto pois a água tomou o local, impedindo que o trânsito fluísse. Uma leitora enviou a foto de pessoas “ilhadas” na localidade com a forte chuva que alagou tudo.

 

 

 

 

 

 

Rua Lateral da RS-239 (Acesso a sapiranga)

Um dos pontos que também foi tomado pela água, foi a Rua lateral a RS-239, que dá acesso à Sapiranga. Na cena, além de água é possível ver sacolas e outros materias e lixos. De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento, isto ocorre pois falta uma tubulação, que deve ser feita pela EGR. “Hoje, toda essa água que desce da bacia do São Luiz chega até a parte debaixo do Viaduto onde tem uma caixa, e em vez de seguir direto pela RS-239, entra na Cidade por meio da Presidente Kennedy e vai costeando a RS-239 pelo lado oposto até chegar na Genuíno Sampaio e então na Antão de Farias, onde desemboca nos três tubos de 1,5m que há lá”, disse nota enviada pela Secretaria.

Ações de Sapiranga

De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento de Sapiranga, estão sendo realizados estudos para evitar transtornos futuros. “Estão sendo realizados vários projetos e estudos de macrodrenagem para desafogar alguns pontos mencionados, como a região da UPA (Avenida Mauá), Parque do Imigrante (20 de Setembro), Presidente Roosevelt e General Daltro Filho (ponto em que será realizada limpeza por parte da Secretaria de Obras para que desafogue a água que vem do Arroio Sapiranga no trecho da Presidente Roosevelt). Quanto ao alagamento na Antão de Farias, embaixo do Viaduto da São Luiz e perto do Mercado Simon, na São Luiz, nas redondezas do Viaduto, a solução se dará quando Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) cumprir com o prometido de colocar um cano de drenagem com bitola de 1,5m na caixa do Viaduto até chegar na ponte do Arroio Sapiranga, perto da empresa Citral na RS-239. A Secretaria de Planejamento está novamente cobrando a EGR, porque nos últimos anos não tínhamos tido chuvas tão fortes em tão curto espaço de tempo. A Secretaria também está marcando com a presidência da EGR uma reunião para cobrar que a rua lateral seja feita e também a drenagem, para ter certeza que essa tubulação será colocada pela EGR, pois a Prefeitura não pode fazer nenhuma tubulação no domínio da Rodovia. Isso é uma questão que a EGR tem que fazer, inclusive, com o dinheiro do pedágio”, disse em nota.

Nova Hartz não teve casos

Em contrapartida aos outros municípios citados, Nova Hartz não enfrentou grandes problemas com alagamentos, ou qualquer outra atipicidade. De acordo com o Secretário de Obras e Agricultura Egídio Luis Sauer, isto se deve ao trabalho preventivo.

“Toda hora intensificamos o trabalho com patrolamentos, limpeza de boca de lodo, limpeza de canos, limpeza de ruas, isso tudo favorece para que não haja alagamentos. Também recebemos uma retroescavadeira nova para ajudar nisto”, disse.

 

 

 

 

 

 

A máquina retroescavadeira, ano 2019, marca JCB, é equipada com braço extensível. Ela é um trator que possui caçamba frontal e traseira, sendo considerada multitarefa. O equipamento foi adquirido com recursos próprios da administração no valor de R$ 217.900,00.

‘‘Com este equipamento estamos melhorando nosso parque de máquinas, dando ao setor de obras melhores condições de trabalho. As economias geradas por toda a equipe nos deram condições para adquirir este equipamento com recursos próprios. Esperamos que, em curto ou médio espaço de tempo, possamos ainda melhor equipar este setor como os demais’’, analisa o prefeito de Nova Hartz, Flavio Emilio Jost.

 

 

 

 

Fotos: Divulgação / Arquivo JR