Centro de Reintegração Social funcionava sem alvará e em condições precárias em Araricá

Araricá – A história voltou a se repetir. Depois da interdição, no final de 2014, do Abrigo O Bom Samaritano, em Campo Bom, agora é a vez do Centro de Reintegração Social Aguilhões de Cristo (que fica às margens da RS-239, em Araricá), ser interditado. Inconformados com o cumprimento das normas da vigilância sanitária da Prefeitura de Araricá, colaboradores e voluntários do Centro organizaram uma manifestação na manhã desta quinta-feira (23), em frente do Posto de Saúde Central.

Moradores do Centro de Reintegração Social Aguilhões de Cristo, que abriga ex-usuários de drogas (e que deveriam estar em fase recuperação) e pacientes com doenças neurológicas, foram levados por colaboradores do Centro, até o Posto de Saúde Central. Eles reivindicam um diálogo com a Prefeitura, após a interdição do espaço na quarta-feira (22). Segundo Cleusa de Fátima Marques Krüger, fiscal sanitária da Secretaria de Saúde de Araricá, o local funcionava irregularmente.  No momento da interdição, 65 pessoas estavam na casa. O local, segundo Cleusa, teria apenas um banheiro e poucos quartos, todos utilizados por várias pessoas ao mesmo tempo. “Oportunizamos ao responsável pelo Centro melhorar as condições do lugar, mas as condições só pioraram. Há cerca de um mês, o responsável pelo Centro solicitou junto à Prefeitura a renovação de um alvará antigo, que lhe havia sido concedido em 2010, quando ele tinha em torno de 15 pessoas na casa. Porém, após o fechamento do Bom Samaritano, ele trouxe cerca de 65 pessoas de lá. Todas estas pessoas possuem problemas neurológicos. Porém, elas necessitam de uma equipe adequada que tome conta delas, além de oferecer as medicações. Nada disso era fornecido no Centro”, denuncia Cleusa.

Na tentativa de contornar a situação, a Prefeitura de Araricá acionou a coordenadoria de Vigilância Sanitária de Porto Alegre, para verificar o que deveria ser feito. “Fizemos várias reuniões, nas quais o prefeito, o pessoal da Assistência Social e o departamento jurídico estavam presentes. Nesse momento, o próprio Ministério Público já possuía conhecimento do caso. O próprio MP solicitou tempos atrás que fizéssemos vistorias do local. Na terça-feira (21) o MP determinou a interdição cautelar do espaço. Nesta quarta-feira (22) cumprimos a determinação e interditamos o local”, explica Cleusa. A partir de agora, nenhum novo paciente será admitido. Em razão da manifestação desta quinta-feira (23) e das atitudes pouco amistosas dos colaboradores, a Prefeitura de Araricá registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Sapiranga por abandono de incapaz e o caso será investigado.

Prefeitura dará toda a assistência necessária aos internos

A Prefeitura informa que todo o suporte necessário, quanto à mantimentos, produtos de higiene e roupas serão ofertados aos internos. “Vamos gradativamente encaminhar cada um deles para suas cidades de origens, contatar as assistências sociais das cidades ou parentes, ou até mesmo encaminhá-los às clínicas especializadas”, revela Cleusa. Todos os procedimentos que serão tomados pela Prefeitura de Araricá foram explicados aos cuidadores na quarta-feira, quando o local foi interditado. Com a interdição cautelar do espaço, o responsável possui um prazo de noventa dias para providenciar a adequação. Porém, até o momento, o responsável não foi localizado pela Prefeitura.

Colaboradores preocupados com o futuro do Centro e dos pacientes

Vinícius Boaz Pereira, colaborador do Centro, revela o distanciamento do responsável. “Faz alguns dias que o proprietário não visita o abrigo. Entendo as razões para o local ser interditado, mas não podemos ser deixados com essa responsabilidade tão grande. Muitos cuidadores estavam indo embora, achando que o local seria fechado. E não temos condições de cuidar de todos os doentes de forma adequada. Só queremos que a Prefeitura nos ajude a cuidar da forma correta dessas pessoas”, pondera Pereira. Outro colaborador, Anderson Cristiano da Silva, também se mostrou preocupado com a situação. “Os voluntários recebem um salário pelos serviços prestados no Centro – salário esse que está atrasado há pelo menos um mês. Nossa preocupação é com os doentes, que precisam de cuidados, mas os colaboradores estão indo embora com esta situação”, destaca. O colaborador revela ainda que os cartões bancários de alguns pacientes (e que servem para cobrir as despesas dos internos) estão todos com o responsável pelo local. “Estamos preocupados também a alimentação dos moradores, pois sem o dinheiro, não temos como comprar comida para eles. Só queremos que a Prefeitura Municipal nos ajude”, finaliza.