Cães com perfil e comportamento agressivo precisam de treinamento intenso e adequado

Região – Assassino. Um termo muitas vezes utilizado para descrever cães extremamente agressivos, que atacaram seus donos, causando sua morte ou de outras pessoas.

Esse termo, entretanto, deve ser lido com muito cuidado, já que um cão que tenha atacado algo ou alguém o fez por algum motivo. “Para o cão não existe isso. Ele simplesmente disputou a liderança, teve o drive (energia) agressivo e matou. Simples assim. Pra ele foi só uma presa ou uma disputa. Ele não vai ter remorso, não tem esse sentimento no mundo dele. O animal veio para perpetuação da espécie. O intuito dele, maior, é manter a espécie dele”, define Sidnei Pereira Flores, premiado adestrador de Nova Hartz.

Assim, é preciso entender sobre o comportamento animal, sobre a raça, para optar em ter um cão em casa. Cães maiores, por exemplo, cujo acúmulo de energia é também alto, necessitam de exercícios, brincadeiras, carinho e disciplina. Tragédias muitas vezes acontecem porque o cão está estressado, amarrado em uma corrente, sem exercícios. “Um cão que não é liderado, apenas ganhando água, ração, imagina, o cão não veio para natureza para estar preso. Aí com esse estresse e energia acumulado, é uma bomba relógio”, define Sidnei.

Um exemplo de cão nesse nível de estresse é o Zeus, um fila de 6 anos, que hoje está sociável, mas que há cerca de sete meses atacou o dono, que veio a falecer depois no hospital. Para o treinador que recuperou o animal, Alexsandro Epping da Silva, de Araricá, é difícil definir um motivo. “No caso do Zeus, houve excesso de repreensão. Ainda hoje, se é encurralado, ele responde com agressividade. Espaço muito confinado. Foram gatilhos que levaram ao ataque”, destaca o adestrador.

Zeus aceita animais e pessoas

Zeus, no período da tragédia, já em situação de estresse, estava no mesmo ambiente de uma cadela no cio. “O proprietário não queria deixar cruzar. E o cão, encurralado, reagiu, acabou atacando, e dilacerou muito os braços”, descreve Silva, que, com curso na área de cinofilia e 10 anos na área de adestramento e reabilitação, orienta as pessoas a não usarem agressão, técnica que pode ser utilizada, mas para disciplinar da maneira correta.

“É fundamental que o cão tenha uma hora, no mínimo, de exercício por dia na rua, ordenado, não fazer o que quiser”, explica o adestrador. Com o Zeus, o trabalho levou tempo. Quatro meses apenas para que ele aceitasse Alexsandro como seu líder. “Estava num nível alto de estresse. Com o tempo, fomos usando outros cães, exercícios. Agora, ele se submete a mim, minha esposa. Solto no pátio com meus filhos, com outros cachorros”, conta Alex.

No futuro, Zeus será disponibilizado para adoção responsável. “Ver um cão reabilitado é muito bom. É bonito ver essa transformação, a mudança psicológica e comportamental, nos fascina”, destaca o profissional.

Texto e fotos: Sabrina Strack