Atafonas moviam o progresso de Nova Hartz

No passado, as atafonas estavam diretamente ligadas com o desenvolvimento econômico de Nova Hartz. Hoje, infelizmente, praticamente todas estão desativadas e sem funcionamento. No Arroio da Bica, o comerciante Revadi José Führ, de 60 anos, mantém conservado todo o aparato no mesmo galpão aonde funciona o bar. Com algumas adaptações e reformas, a produção de farinha de mandioca ainda seria possível no endereço, entretanto, a produção esbarra na falta de matéria-prima. “Desde os 13 anos já trabalhava junto a atafona. Nos anos 70 e 80, no auge da produção, a estrutura chegou a uma produção recorde de 8 mil quilos de farinha de mandioca distribuídos em 70 sacos. O destino foram comércios em Canoas e Carlos Barbosa. Encerramos as atividades no ano de 1992 em razão de falta de produções maiores de mandioca”, explicou Führ. Ele é genro do casal Rudi e Isaura Brunner, os antigos proprietários do estabelecimento. Atualmente, a antiga roda d’água que ficava na lateral do galpão deu lugar a um motor que impulsiona e movimenta toda a estrutura. Com frequência, familiares e conhecidos curiosos pedem que a atafona seja ligada para conhecer e assistir o funcionamento.

Paixão de família

O comerciante detentor da estrutura tenta transmitir a paixão pela atafona para os demais integrantes da família. “Tenho um filho, o Rômulo, de 35 anos, que hoje reside em Santa Maria do Herval e inclusive vive da agricultura, e também uma filha, a Tamara Francine, 28 anos. A atafona pertencia aos pais da minha esposa, Renita Führ, de 62 anos”, disse. Caso consiga uma carga maior de mandioca, o comerciante Führ pretende produzir uma leva de farinha de mandioca no próximo ano, com o propósito de comercializar o produto e colocar novamente o equipamento em uso.

Nova Hartz chegou a ter um total de 12 atafonas

Responsável por uma das atafonas remanescentes do auge da produção do alimento em Nova Hartz, o comerciante Revadi José Führ, 60, do Arroio da Bica, explica quais são todas as peças da estrutura. “Temos a raspadeira, o sevador, duas prensas, um moedor da massa e o forno, na última etapa, que seca a farinha”, explicou. O comerciante de Nova Hartz estima que o município chegou a ter 12 atafonas produzindo farinha e raspas da mandioca.
De acordo com o pesquisador e autor de três livros, Ernani Haag, o impulsionamento da produção de farinha de mandioca aconteceu graças a uma lei elaborada na então capital nacional, Rio de Janeiro. “O Brasil importava muita farinha de trigo da Argentina ou dos Estados Unidos. Não existia Brasília ainda e uma lei federal elaborada no Rio Janeiro, definiu que toda farinha de trigo no mercado nacional deveria levar em sua produção, em torno de 30% de farinha de mandioca. As fibras de ambas são semelhantes”, explicou o estudioso.
Haag ressalta ainda que a região de Nova Hartz chegou a ser tornar o maior exportador de farinha de mandioca de todo País.
Segundo o pesquisador, o fim dessa lei de que impulsionou a produção em toda região, redução no plantio de mandioca, assim como a ascensão do segmento coureiro-calçadista levaram ao desinteresse e, consequentemente, o encerramento das atividades de muitas atafonas no município de Nova Hartz.

 

Motor guardado

Na parte de fora do galpão da família Führ, a água já não atravessa mais calhas até o local aonde estava instalada roda d’água. Em uma espécie de tanque coberto com telhas, a peça de um motor enferrujado aparece escondido e sem utilização.
Os meses de abril, maio, junho e julho, eram os meses de maior atividade das atafonas e também de colheita de mandioca.