Artigo: Por menor que seja a quantidade, chocolate jamais deve ser dado a gatos e cachorros, por Felipe Cemim

Por Felipe Cemim, veterinário da Tierplatz

Estamos no período da quaresma, que antecede a páscoa, onde é comemorada a ressurreição de Jesus Cristo. Um dos símbolos presentes na páscoa é o coelho, que também serve muitas vezes de presente para as crianças, e devemos ter muito cuidado, assim como ao presentear com filhotes de cães e gatos, por serem animais e necessitarem de cuidados especiais, quanto a saúde e alimentação. Lembrando sempre de que eles têm um vida longa, e não merecem ser desprezados no futuro.

Um presente muito comum e senão o mais frequente, são os chocolates, que tomam várias formas e sabores, podendo ter diversas concentrações de cacau. Devemos sempre cuidar muito para que os cães e gatos não tenham acesso a eles, e não devemos jamais alimentá-los com os chocolates, por menor que seja a quantidade. Os chocolates são compostos por carboidratos, lipídeos, aminas biogênicas, neuropeptídeos e metilxantinas (cafeína e teobromina). Todos podem causar ações prejudiciais nos animais, mas as últimas tem grande importância toxicológica e podem estar presentes em diferentes concentrações, desde 0,005% (como no chocolate branco) até concentrações de 1,35% (em alguns chocolates com maior teor de cacau, os amargos).

A dose tóxica das metilxantinas não é difícil de ser atingida, sendo a ingestão de aproximadamente 100 a 150 mg por quilo de peso suficiente para que se apresentem sinais de toxicidade. A ingestão de 113 g de chocolate ao leite por um cachorro de 2 quilos, já pode ser o suficiente para que seja atingida a dose tóxica e alguns sinais possam aparecer, caso o cão coma um chocolate amargo, com apenas 13 g já podem aparecer sinais de toxicidade, pois a concentração de metilxantinas é muito maior. Se pensarmos em um cão maior, a quantidade de chocolate a ser ingerida para desencadear sinais clínicos é proporcionalmente maior, porém não muito difícil de ocorrer se for ingerido o chocolate do tipo amargo, bastanto apenar 186 g, ou seja, pouco menos do que 1 barra.

As metilxantinas são lipossolúveis, e por isso rapidamente absorvidas no estômago e intestino, ultrapassam facilmente a barreira hemato encefálica, chegando aos neurônios. O principal efeito da teobromina no sistema nervoso central é a excitação, potencializada pela ação da cafeína, que por sua vez tem efeitos excitatórios no coração. A eliminação da teobromina é longa, podendo levar até 6 dias para sua completa eliminação.

Os sinais neurológicos não são os únicos a aparecerem, tendo vários outros, como vômitos, diarreia, aumento no consumo de água e volume urinário, e ocorrência de arritmias cardíacas ou ainda a exacerbação de doenças arrítmicas já presentes. Incontinência urinária e febre podem ocorrer também, mas em casos graves, podem surgir tremores musculares, convulsões, e até mesmo o coma e morte.

Sem tratamento para intoxicação

Não existe tratamento específico (antídoto) para a intoxicação por teobromina, sendo realizado o tratamento sintomático, com o objetivo de controlar os sinais clínicos apresentados. Deve sempre ser tratada como uma emergência médica, e muitas vezes tratada com a internação para que o tratamento seja feito de forma intensiva. Para que não tenhamos problemas com o consumo de chocolate pelos nossos pets, já estão disponíveis petiscos com sabor de chocolate, que são específicos para os cães, e não trarão problemas de saúde, mas vale sempre lembrar que também é importante guardarmos de forma adequada os chocolates para que os cães não caiam em tentação e “roubem” pedaços dessas delícia.