Antiga área do aeroclube de Sapiranga é invadida e grupo de aeromodelismo é colocado para correr

Área que está loteada e com compradores definidos no antigo aeroclube de Sapiranga Fotos: Grupo Repercussão

Sapiranga – Há pouco mais de um mês, dezenas de pessoas invadiram a antiga área do aeroclube, na Estrada Porto Palmeira esquina com a Rua da Aviação, logo após a ponte sobre o Arroio Sapiranga.

Em uma área de pouco mais de oito hectares, cerca de 300 famílias montam casebres de madeira na área que um dia serviu de pista para pousos de aviões monomotores e outros tipos de aeronaves. Até o mês passado, a Associação de Aeromodelismo de Sapiranga utilizava o espaço para a prática do esporte, através de um Termo de Arrendamento estabelecido com os antigos sócios do clube, por volta de 2014.Mas, entre o fim de semana de 22 a 23 de maio, um grupo começou a demarcar a área do campo de pouso com toras de eucalipto e arame farpado, fracionando irregularmente o local e estabelecendo lotes para as famílias, que desde então, não param de erguer estruturas. No espaço, não há qualquer tipo de infraestrutura. Não existe saneamento básico, rede de esgoto, a energia elétrica é feita por ligações clandestinas e a água é obtida através da boa vontade de vizinhos que possuem residências há mais tempo, na própria Rua da Aviação.

Internamente, como forma de ludibriar os interessados em comprar lotes no local, os grileiros dizem que toda a área pertence à Polícia Federal, pois o antigo proprietário, Celso Tonon, morreu.

O presidente da Associação de Modelismo Rádio Controlado de Sapiranga (AMRCS), Rodrigo Luis, contextualizou a saída da entidade que preside a área do aeroclube: “Tínhamos reformado a antiga sede do paraquedismo e promovemos melhorias. Construímos dois galpões de 200 metros quadrados que eram usados de suporte para a prática do aeromodelismo. Tínhamos Contrato de Arrendamento para usarmos cerca de quatro hectares, e em alguns anos, chegamos a sediar etapas do Campeonato Gaúcho de Acrobacias. Nosso sentimento é de indignação. Agora, estamos sem o local para a prática do esporte e estamos tentando viabilizar outra área junto com a Prefeitura”, explica.

A prefeita, Corinha Molling, avalia a situação: “Nossa Administração é totalmente contra as invasões. Não aceitamos esse tipo de conduta. Nesses quase oito anos de governo trabalhamos sempre dentro do possível para oferecer, dentro da ordem e conforme a lei, a construção de loteamentos habitacionais com toda infraestrutura necessária”, disse Corinha.

Este é o lote do madeireiro da invasão onde materiais são vendidos

Local está em fase de grilagem

Nesta semana, a reportagem esteve no local e constatou a ocupação irregular do aeroclube. No que antes era uma pista de pouso e decolagem de mais de 500 metros, agora, o que se vê é uma mar de arame farpado, que demarca os lotes que variam de 9 metros de largura por 15 de comprimento. Na área, também, já está ocorrendo comércio de madeiras (ripas, caibros e toras de eucalipto) por um dos membros da ocupação. Neste lote, inclusive, um casebre, bem amplo, está em construção no local (foto acima). “O espaço do aeroclube, no bairro Fazenda Leão, trata-se de uma área particular. Infelizmente, as pessoas que adquiriram os terrenos nessa área foram enganadas por elementos mal-intencionados”, disse Corinha.

Responsáveis aceitam itens de valor como motosserra, TV tela plana e dinheiro vivo

Simulando possuir interesse na compra de um lote, um repórter do Repercussão esteve na área nesta semana. O acesso ao loteamento clandestino ocorre pela Rua da Aviação. Logo ao chegar foi questionado sobre os responsáveis: “Na real, aqui não tem um responsável. Nós somos os responsáveis”, disse um elemento que se identificou como “Juca” ao lado da esposa, Rejane. Quando questionado de como poderia ser feito o pagamento os indivíduos mostraram ser flexíveis: “Queremos vender à vista. Mas, alguma coisa até esperamos para pagar. Muita gente chega nos oferecendo um telefone, uma motosserra ou TV. Se for coisa de utilidade, aceitamos. A motosserra, por exemplo, é útil, pois aqui não tem luz”, explicou.

Particularidades de uma invasão

Quando não existe uma diretoria interna, subgrupos ditam regras. A água, os planos de parte do grupo é perfurar um poço artesiano no local. A energia elétrica, os membros compraram parte da fiação e os postes serão colocados através da derrubada de uma mata de eucalipto existente na margem do aeroclube. As guias de madeira custam R$ 2,50 (de 10 cm) e R$ 1,50 (de 5 cm) e podem ser compradas dentro da invasão. “Desde o início da minha gestão em 2013, sempre investimos no social, mas sem assistencialismo ou demagogia. Habitação para quem é daqui, sem dar espaço a movimentos de invasores com interesses políticos”, conclui Corinha.