Ana Clara volta para o doce lar e precisa de carinho para sorrir outra vez

Sapiranga – Com o convívio familiar na própria casa, o calor humano e o amor que recebe da família, Ana Clara Telles Melo Machado, sete anos, começa a demonstrar sinais de evolução no seu delicado e complicado quadro de saúde. Com uma séria e grande lesão neurológica que afetou o chamado tronco encefálico – região que comanda os tendões da região ocular – a criança não abre espontaneamente os olhos, não fala, muito menos consegue ficar em pé e caminhar.

No primeiro dia que chegou em casa, dezenas de crianças que estudavam com Ana Clara foram até a casa da Família Telles Machado. “Nesse dia eu vi ela rindo muito”, se emociona a mãe, Rosecleia Telles Melo, 30 anos, que explicou que antes de voltar para casa, Ana Clara não conseguia firmar as pernas na cama, e agora, consegue.

As pequenas e contínuas conquistas diárias da criança enchem de esperança a mãe. “Minha filha está reagindo”, citou a mãe. Nestas primeiras semanas, a família recebeu ajuda dos vizinhos e de amigos. “Uma moça trouxe uma cadeira e uma indústria fez um colchão especialmente para a Ana”, relembra a mãe.

O momento da Família Telles Machado exige superação para conviver em uma casa pequena, onde residem um casal de adultos, a mãe de Rose e outros quatro filhos. “Queremos construir outro cômodo, nos fundos. Quem puder nos ajudar com materiais de construção como tijolos, cimento e ferro, agradecemos”, comenta a mãe.

Prefeitura presta assistência com repasse de materiais de primeira necessidade

Para possibilitar a plena recuperação da menina Ana Clara, a Prefeitura continua auxiliando com os itens de primeira necessidade. Na tarde da terça-feira (23), uma caixa repleta de frascos, sonda de alimentação, gases e seringas foram levadas para auxiliar a família. A partir desta quinta-feira (25), iniciam as sessões de fisioterapia na Unidade de Saúde Especializada (USE). Na sexta-feira (26), a Prefeitura que auxiliou com o carro adaptado o deslocamento, para Porto Alegre, em uma consulta de avaliação com apoio de um técnico de enfermagem. Enquanto as fraldas e o leite fornecidos pelo estado não chegam, a Prefeitura também efetua o repasse desses itens à família.

Medo de que uma tragédia aconteça com outras mães

Um fato que tira o sono de Rosecleia Telles Melo é o alto fluxo de veículos no trecho entre a esquina da Rua São Jacó e a Avenida Travessão Ferrabraz. “Tenho mais crianças que vão na Escola Rubaldo Saenger. Meu medo é que ocorra algum acidente com as crianças que transitam na região, pois o tumulto é muito grande ali na escola e nas esquinas. Entendo que é uma outra tragédia anunciada que pode ocorrer a qualquer momento”, sentencia. “Acredito que o local deveria ter reforço na sinalização, por exemplo, uma sinaleira. Quando meus filhos precisam passar por ali fico com o coração na mão. Os vizinhos ficam olhando, mas sempre fica a sensação de insegurança”, conta, reforçando que não quer que nenhuma mãe passe o que está passando. “A tragédia com a minha filha poderia não ter ocorrido no campinho, mas na esquina da Travessão com a Rua São Jacó”, pontua.

Processo judicial

Para tentar obter um auxílio financeiro dentro do que acredita ser justo, a mãe de Ana Clara encaminhou documentos para mover um processo judicial contra a Prefeitura e a empresa que forneceu a goleira que foi colocada na área verde pertencente à Prefeitura. “Quero mover um processo para poder estruturar o futuro da Clara. Preciso disso, pois tenho outras quatro crianças e por essa razão, estou me movimentando neste sentido. Necessitei parar de trabalhar, e sem recurso, não tenho como ajudar a pagar as contas para a Clara”, explicou Rose.

Rose tem outros quatro filhos: Ana Ritieli (2 anos), Ana Gabrieli (9 anos), Ana Luiza (11 anos), Ivan (4 anos), além da Ana Clara. Com o esposo e a mãe, ela mora em uma casa simples, no São Jacó.

E as goleiras? Empresário se pronuncia

Desde a origem dos fatos, um empresário sapiranguense tem o seu nome associado ao triste episódio. Nesta semana, por telefone, a reportagem conversou com ele rapidamente. Veja trechos do que ele falou. “Quanto às traves, eu nunca comprei traves, portanto elas nunca foram minhas. Mas, foram colocadas no pátio de minha empresa por pessoas da comunidade e acompanhamento do guarda. As traves ficaram no pátio da minha empresa por três a 5 meses há mais ou menos 3 anos atrás. As crianças começaram a quebrar os postes da tela para jogar futebol e quando entravam alguns ainda subiam nas traves e o guarda me falou que era perigoso pois elas eram soltas e podiam cair em cima de alguém. Foi aí que solicitei a imediata devolução delas e a retirada do meu pátio. Ele recolheu elas e levou para casa dele. Mas, ele disse em depoimento à polícia, que as traves não entraram no portão e ficaram na calçada e as próprias crianças pegaram e levaram para aquela área. Reafirmo, nunca foram e nunca serão minhas”, citou o empresário.

Nota de redação: Pessoas procuraram o Jornal Repercussão questionando o contato da mãe de Ana Clara para que pudessem oferecer algum tipo de ajuda, logo, se alguém se solidarizar com o caso da Ana, pode contatar a mãe dela, Rose, através do telefone (51) 980-657-761.

Fotos: Deivis Luz