Agricultura sintrópica ou agroflorestal trabalha a favor da natureza, recupera o solo e produz alimentos sem agrotóxicos

Sapiranga – Uma agricultura que concilia produção agrícola e recuperação de áreas degradadas, baseada em processos que mimetizam a regeneração natural e os processos sintrópicos da vida no planeta. Um trabalho a favor da natureza e não contra ela, associando cultivos agrícolas com florestas para recuperar os recursos, a formação de solo e o favorecimento do ciclo da água. É este um resumo do que é a Agricultura Sintrópica, desenvolvida pelo agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch, que por muitos anos trabalhou com melhoramento genético em seu país natal, buscando desenvolver maior resistência de plantas às doenças.

Foi esta experiência que instigou em Götsch algumas dúvidas. “E se nós melhorássemos as condições que damos às plantas ao invés de ficar tentando buscar características genéticas nelas que as façam aguentar os nossos maus tratos?”, declarou.

Foi essa pergunta que motivou uma mudança de perspectiva. Passou a efetuar testes em terras no norte da Suíça e no sul da Alemanha. Com os bons resultados obtidos, tanto em produção quanto em recuperação de solos degradados, o pesquisador passou a receber convites para explicar sua técnica.

Cruzou o Atlântico e se estabeleceu na Costa Rica, no final da década de 1970, e adaptou o sistema aos trópicos. Em 1982 se muda para o Brasil a pedido de um conterrâneo, para o qual desenvolveu um plano de manejo para uma terra degradada na Bahia. Ele segue no Brasil, onde transformou a então Fazenda Fugidos da Terra Seca, em Piraí do Norte, onde havia apenas pasto seco, em Fazenda Olhos D’Água, onde produz vegetais, banana e cacau, além de ter feito ressurgir 14 nascentes de água.

Em 2015, o projeto Verde Sinos implantou em Sapiranga unidades de referência do Sistema Agroflorestal de produção (SAF). Fabio Dias, Rubem Harff e Cassios Maus trabalham hoje no município com orgânicos e utilizam este tipo de produção.

Sistema implantado em Sapiranga

Fabio Dias plantou bananeiras e macierias. Outras plantas não vingaram devido ao período de seca enfrentado quando da implantação do sistema. Para adubar o solo, apenas aquilo que está já no sistema, como as bananeiras improdutivas. “Princípio não é colocar nada no solo. Na implantação foi colocado pó de rocha, calcário, fosfato e composto. Para dar o boom inicial. Agora é só jogar essa biomassa para cima”, explica Dias. “Desenvolvo o sistema agroflorestal, que imita a natureza. É uma forma de produção sustentável pois baseia-se na reciclagem dos recursos naturais, sem esgota-los. Os alimentos produzidos neste sistema (orgânicos) têm mais minerais, são mais saborosos e se conservam por mais tempo depois de colhidos. É a forma mais racional e inteligente de se fazer agricultura”, pontua Rubem Harff. A implantação do sistema, para Cassios, se justifica pela necessidade de associar a produção com o meio ambiente. “Aumenta o estoque e qualidade da água, conserva o solo, aumenta a biodiversidade e melhora a qualidade de vida do agricultor As árvores também atuam no melhoramento do solo. Em resumo, elas influenciam na quantidade e disponibilidade de nutrientes. Assim conseguimos uma ciclagem de nutrientes minerais em maior escala do que nos convencionais”, cita Maus.

Recuperação pelo uso

A agriculta sintrópica é voltada para a produção e para a recuperação pelo uso. No sistema, segundo conceito de Götsch, a cova passa a ser berço, sementes passam a ser genes, a capina é a colheita, concorrência e competição dão lugar à cooperação e ao amor incondicional e as pragas são, na verdade, os agentes-de-fiscalização-do-sistema. Os termos não surgem por acaso, mas derivam de uma mudança na própria forma de ver, interpretar e se relacionar com a natureza. “A gente não irriga e não nos cabe fazer aporte de nutrientes. O sistema mesmo que produz seu próprio adubo. Como resultado da nossa atividade de produzir alimento nós podemos melhorar o solo, solo com uma boa estrutura e protegido. Vamos tentar nos reconciliar com o planeta e buscar a nossa função, movido pelo prazer interno”, declarou o suíço em entrevista.

Agricultores destacam

Fabio Dias, produtor orgânico em Bela Hu, Sapiranga.

“O cultivo no sistem agroflorestal é sustentável, porque não vem coisa de fora, principal ponto é esse.O bacana é trabalhar com agentes locais, não tem a questão do transporte de insumo, que é agressivo. Nada de adubação química”.

 

 

 

Cassios Maus dos Santos, produtor orgânico em Picada Verão, Sapiranga.

“O consumidor destes produtos tem múltiplos benefícios. Promovem maior produção, empregos, renda dos produtores e o desenvolvimento sustentável. Ou seja, produção com respeito e equilíbrio aos aspectos social, ambiental e econômico, fortalecendo a agricultura global e restaurando o organismo florestal no planeta Terra.”

 

 

 

Texto e fotos: Sabrina Strack