Adoção: um gesto de amor incondicional

O casal sapiranguense Paulo e Marga Engelke adotaram o filho, Júlio, após ambos se aposentarem

“Foi a melhor coisa que fiz na minha vida”. É assim que Marga Maria Schmitt Engelke descreve a decisão de adotar o filho, Júlio Engelke. Júlio, hoje com 25 anos, foi adotado por Marga e Paulo Engelke após o casal se aposentar. Paulo faleceu em 2012, mas Júlio continua acompanhando a mãe.

O casal foi primeiro a Novo Hamburgo, no setor de adoções, para uma entrevista. Na fila de espera, estavam em 38º lugar. Porém, ao saberem que em Sapiranga também faziam adoções, se inscreveram no município. Dois meses depois, foram informados de que estava previsto o nascimento de uma criança, para 15 de novembro. “No fim, o Júlio acabou nascendo no dia 29 de novembro.”

Apoio da família e conscientização sobre a adoção

Com receio de terem de esperar muito tempo pela criança, Marga e Paulo não contaram sobre a adoção ao resto da família. Nem a mãe de Marga, que estava com ela quando recebeu a ligação sobre o nascimento de Júlio, sabia. “Quando voltei a sentar com a minha mãe depois da ligação, ela quis saber o que tinha acontecido. Contei para ela, e ela disse ‘mas vai lá no hospital, vai pegar essa criança’. Ela ficou entusiasmada, quando cheguei em casa com ele, ela não sabia o que fazer, de tão feliz. E toda a família ficou muito feliz.” Marga conta que receberam a notícia em um sábado e, como o marido não estaria em casa naquele final de semana, foram ao Hospital na segunda-feira. “Segunda-feira, 8h da manhã, estávamos lá. Fomos conhecer ele, mas nunca tivemos contato com a família. Então encaminhamos os papéis pelo Fórum, tudo feito dentro das vias legais. Em 25 de fevereiro ganhamos a certidão de nascimento dele, foi tudo muito rápido. Não fizemos pedidos, da criança ser branca, menino ou menina, então foi tudo muito rápido. Em fevereiro de 1991 me aposentei, o Paulo se aposentou em abril e em novembro o Júlio nasceu”, lembra.

A decisão de adotar também foi uma decisão de contar para o filho sobre a adoção

Marga conta que desde sempre queria que Júlio soubesse que era adotado. “Sempre procurei colocar pra ele que ele era adotado. Sempre pensava que ele teria que saber por nós, saber a verdade. Até por aparência física e tudo o mais, coisas que de repente ele pudesse pensar, ‘ah, mas eu não tenho nada a ver com esses dois aqui. De onde vim?”, conta Marga. “Tanto que eu chegava a me apresentar para as pessoas assim: ‘oi, sou o Julio, o filho adotado da Marga e do Paulo’”, conta Júlio. “Um dia, eu falei que ele não precisava dizer isso, se não quisesse. Eu falei, ‘Tu não tem que dizer isso. Se tu quiser dizer, tu pode dizer, mas não precisa.’ Ele me respondeu, ‘Ah, eu não preciso dizer? Então não vou dizer.’ Aí, ele esqueceu aquilo”, lembra Marga.

Na escola e no lazer

“Algo que me envolveu muito, em que eu aprendi muito com ele, foi a parte escolar. Acompanhar ele na escola foi muito bom. Se não fosse isso, teria parado no tempo. Minha ideia não era continuar trabalhando depois de aposentada, queria ficar em casa. Estava desde os 16 anos até os 46 sempre saindo de casa pra trabalhar. Quando me aposentei, pensei, ‘agora quero ser um pouco do lar’. E com ele, acabei acompanhando muito essa parte”, conta Marga – que também conheceu muitos lugares e pessoas, por causa do filho. “Conheci diversos lugares e pessoas por intermédio dele. Eu e o Paulo não éramos muito de passear, de sair e viajar. “, lembra. “Éramos de ficar mais em casa, financeiramente não tínhamos grandes condições, então sempre fomos bastante acomodados. Depois, com o Julio, isso mudou”.

Vontade de manter a mãe perto de si

“Às vezes até digo para ele me deixar em casa, que não precisa estar sempre comigo..Mas aí o Júlio me diz que está me convidando, que quando eu não puder mais sair com ele, vou me arrepender de não termos estado juntos. E aí acabo concordando com ele e saímos juntos”. Para Júlio, o esforço de manter a mãe por perto tem a ver com a maneira que foi criado. “Sempre fui muito agradecido por tudo que eu tenho. Acho que eu trazer a minha mãe sempre para junto de mim tem a ver com isso, com o fato de que se ela não está por perto, parece que sempre tem alguma coisa faltando”, diz o filho.

Mãe presente na vida acadêmica do filho

O acompanhamento à vida acadêmica do filho não terminou depois de Júlio se formar no Ensino Médio. “Até na faculdade já sou conhecida”, comenta Marga, que de vez em quando acompanha o filho até a Unisinos, onde ele cursa Gastronomia. “Tempos atrás, ele me chamou pra experimentar uma comida que fizeram em aula…umas quantas professoras já me conhecem”, revela ela, que costuma acompanhar Júlio em eventos da faculdade, como a Virada Solidária, que aconteceu em Porto Alegre no mês passado.”Os professores gostam quando os pais são bem participativos, o que é bem algo atípico, essa proximidade”, considera Júlio.