Abelha exótica, nativa da região amazônica, é encontrada em árvore de Campo Bom

Um caso inusitado está chamando a atenção dos meliponicultores da região e recebendo monitoramento periódico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) de Campo Bom. Em uma árvore na rua Aimoré, no Centro da cidade, abelhas exóticas estão alojadas no local. Elas foram identificadas como sendo da espécie Uruçu Boca de Renda e, conforme o biólogo da SEMA, Jeferson Timm, o animal é nativo da região amazônica. “Com certeza, tem pessoas  num raio de até dois quilômetros do local que estavam ou estão criando essa abelha”, detalha. “Desde que ficamos sabendo, já estamos monitorando, uma vez que essa espécie é nativa do bioma amazônico e sua criação é proibida no nosso estado”, complementa Timm.

A Federação dos Meliponicultores Conservacionistas do Rio Grande do Sul (FEMCORS) acompanha o caso. O presidente da entidade, Vilmar Fank, lembra também que a espécie não está acostumada com o ecossistema da região e do estado. “Essa espécie de abelha não está adaptada ao nosso clima e, principalmente, aos nossos tipos de florada”, cita. “Se isso continuar acontecendo, vamos ter um desequilíbrio muito grande”, completa Fank. A presença das abelhas exóticas pode, inclusive, gerar uma espécie de disputa entre as espécies. “Aquele oco da árvore onde essa abelha está instalada, certamente era de uma espécie nativa e o risco dessas abelhas estarem competindo por flores e por ocos de árvores é muito grande”, relata Timm, ao citar ainda que, mesmo inofensiva aos humanos, as exóticas podem transmitir doenças para as abelhas nativas do estado.

Monitoramento constante com auxílio de profissional especializada em abelhas

O monitoramento que a SEMA está fazendo do caso ocorre de forma constante e também conta com o auxílio de informações de uma profissional especializada em espécies de abelhas. “Por enquanto, nós estamos monitorando para verificar a real capacidade dessa abelha sobreviver ao nosso inverno, já que os criadores utilizam aquecimento para as abelhas não morrerem no inverno. Como essa abelha é de uma região diferente, chama a atenção no nosso monitoramento é que essa abelha está trabalhando nos dias mais frios. Isto está impressionando a gente, porque o esperado era que ela nem saísse do local”, contextualiza Jeferson. “Depois destas constatações, a gente pode perceber que, realmente, essa abelha pode ser perigosa para as nossas abelhas nativas. Por isso, a gente está em contato com uma professora da PUC que é especialista nessa área”, acrescenta o biólogo. A especialista está passando informações importantes de como devem ser os processos de cuidado e monitoramento e, a partir de agora, um plano de trabalho será idealizado pela secretaria.

Inofensiva aos humanos

O biólogo lembra que, mesmo sendo uma espécie exótica, a abelha Uruçu Boca de Renda é inofensiva aos seres humanos. “Ela é uma abelha que não tem ferrão, então, em contato com uma pessoa, não vai causar nenhum problema”, explica Timm. Jeferson cita ainda que o monitoramento é constante, tendo em vista que, por se tratar de uma espécie exótica, ela pode causar problemas como a extinção de espécies nativas do estado.

Fique por dentro

Uma das situações que a ocorrência das abelhas boca de renda também pode causar é a extinção de espécies nativas do Rio Grande do Sul, uma vez que, por serem agressivas, acabam entrando em conflito com as espécies nativas da região, algumas já em extinção. “Como muitas plantas têm relação direta com a polinização, isso pode gerar um desequilíbrio no ecossistema”, aponta Jéferson.

A criação de abelhas está amparada em legislação nacional, porém, a abelha encontrada em Campo Bom não está entre as espécies permitidas de serem criadas no estado. “Quem está fazendo isso, está fazendo de forma ilegal”, adverte Jeferson. “A competência de fiscalização é da Secretaria de Meio Ambiente do Estado e eles precisam se manifestar sobre esse caso”, aponta Fank.