A urbanização sapiranguense, que chegou de trem

A estação ferroviária de Sapiranga trouxe o início da urbanização e comércio ao município, no século XX

Em 3 de agosto de 1903, foi inaugurado o trajeto da malha ferroviária da região que ia de Novo Hamburgo a Taquara – contando com uma estação ferroviária em Sapiranga, onde hoje está instalado o Museu Municipal da cidade. Essa inauguração, conforme conta Anelise Blos, professora que trabalha no Museu sapiranguense, marca, de certa forma, o início da urbanização do município.

“Depois do episódio dos Muckers, nossos colonos quiseram esquecer a história e se dedicar ao trabalho. Como na época não havia indústria, a agricultura se desenvolveu muito. O governo percebeu esse desenvolvimento e decidiu construir o trajeto”, explica Anelise, que lembra que, antes do trem, os colonos usavam as vias que hoje são as Ruas Duque de Caxias e Presidente Kennedy para levar ao Rio do Sinos os produtos, que chegavam a São Leopoldo e Porto Alegre via lanchões. “Com o trem, os produtos ficavam no depósito, e depois foi preciso construir mais prédios para abrigar os produtos. Foi assim que começaram a surgir mais casas próximas à estação. Até então, não havia um núcleo de casas, pois as pessoas moravam mais afastadas”.

Surgimento de indústrias e as primeiras ruas

Esse núcleo mais tarde se tornou uma vila. ”As pessoas começaram a deixar a colônia e vieram morar na vila. Foi então que começaram as construções de algumas ruas, e os descendentes dos imigrantes que tinham conhecimento de alguma profissão começaram a desenvolver uma segunda etapa. Quando os antepassados vieram, a prioridade era terem seu alimento, estarem estruturados financeiramente, mas os descendentes se ocuparam com outras profissões, foi então que surgiu uma fábrica de calçado – o calçado bem artesanal, daqueles que se faziam dois ou três pares por dia, feitos por sapateiros mesmo. Nessa época, Sapiranga tinha diversidade de indústrias, havia fábricas de charutos, colchões, sombrinhas. O trem era utilizado para levar esses produtos a outros lugares”. Outro produto levado pelo trem era o leite. “O trem leiteiro vinha só para buscar o leite da região, que era levado para depois ser engarrafado e distribuído nas grandes cidades”, conta.

Estação de trem tinha meios de comunicação

A professora Anelise Blos lembra que a Estação onde hoje está instalado o Museu Municipal contava com seu agente ferroviário. “O pessoal que cuidava da estação sempre morava junto dela. A estação também era o lugar onde tinha o meio de comunicação, que no começo era o telégrafo. Ele ficava lá, de onde se mandavam os telegramas e, mais tarde, quando surge o telefone, a estação também foi o primeiro lugar onde ficou o telefone. Esse telefone era controlado por uma central telefônica que ficava em Montenegro, por isso às vezes ele não era tão rápido como hoje, pois era preciso entrar em uma ‘fila’ e aguardar, às vezes por duas ou três horas”, conta Anelise.

As classes no trem

“No trem, havia a primeira classe e a segunda, e na segunda iam as pessoas que tinham menos condições e lá, se tu abria a janela do vagão poderia queimar a roupa. Isso porque o trem era movido a carvão, e com a fumaça saía pequenas fagulhas, que às vezes entravam no último vagão e com a janela aberta, as fagulhas entravam e queimavam o tecido. Assim, quem era mais abastado ficava nos vagões da frente”, revela a professora.