O que as urnas não vão mudar

Talvez nasçam novos postos de saúde. Talvez aumente o número de médicos. Quem sabe pacientes não morram antes do atendimento. Quiça surjam novas e modernas escolas. Oremos para que os professores ganhem mais e a qualidade do ensino mude de patamar. Torçamos freneticamente para que os gritos que ecoaram para dentro dos palácios de governos sejam o início de um novo horizonte.
Mas tudo isso pode não ser o suficiente. E não será. Para redesenhar a nossa história, para chegarmos a um outro nível de civilização é preciso muito mais do que isso. Simplesmente porque o maior problema do Brasil não está nas mãos do governo. Está nas nossas.
Só nos transformaremos de verdade, quando tivermos vergonha de tentar corromper o guarda na esquina, o mecânico não trocar a peça sem precisar, o dentista não fizer um procedimento que não seria necessário. Quando o médico não cobrar por fora por uma consulta pública, o advogado não se apropriar do dinheiro que o cliente acaba de ganhar na justiça, o jornalista não se vender. Quando o dono do restaurante deixar de comprar carne clandestina. Quando em todas as casas, as pessoas separarem o lixo corretamente, o dono do posto não alterar a gasolina.
Só seremos outro povo, quando quisermos parar de levar vantagem em tudo. Somos culturalmente corruptos. Malandros. Inaptos para a honestidade. E isso só as urnas não vão mudar. Precisamos tentar mudar no berro e no voto.  Mas, ao voltar para casa, é preciso olhar no espelho. Viajar silenciosamente para dentro de nós mesmos. E tentar enxergar o que cada um pode fazer individualmente para construir um novo paradigma. Sem isso, não há passeata e eleição que resolva!
Maurício Gonçalves, Jornalista