Juventude e trabalho

Lembro-me muito bem quando perguntei para o meu pai o porquê ele estudou somente até a 4ª série, sua resposta foi de prontidão “Eu precisava escolher entre trabalhar ou estudar”.
Diante disso, temos um quadro muito claro do que foi esta geração e o quanto vem se modificando. Nunca tivemos tantos jovens em plenas condições ativas no país, isso se chama Bônus Demográfico, porém alguns fatores vêm fazendo com que nossa juventude venha se distanciando do mercado de trabalho, um deles e talvez o principal seja a dificuldade de conciliar o trabalho com o estudo. Nossos jovens não querem ter esta dolorosa escolha que os jovens da geração passada tiveram entre um ou outro caminho, diante de projetos como o PROUNI e o PRONATEC que colocam milhões de jovens no ensino superior e técnico, dos financiamentos estudantis como o FIES e as dezenas de escolas técnicas e universidades federais que foram construídas nos últimos anos, seria quase um crime perder tantas oportunidades de estudo por um emprego, que na visão do jovem pode ser apenas uma hospedagem profissional até ele realmente decidir que profissão seguir. A falta de flexibilidade em horários de algumas categorias, a falta de percepção do perfil individual e o assédio moral praticado por chefes e supervisores em relação ao estilo estético, físico, cultural e até sexual dos nossos jovens também contribuem para o afastamento desses setores. O poder público também carrega sua parcela de culpa, a acessibilidade e falta de mobilidade urbana, fazem com que o trabalhador perca preciosos minutos que poderiam ser utilizados para cultura e lazer em deslocamento até as empresas.
Incomoda-me muito ouvir de alguns empresários o argumento que nossa Juventude “não quer nada com nada”, o fato é que nossa juventude está exigente sim, e é o emprego que não atende suas necessidades educacionais, culturais e salariais que se torna precário. Um dos setores mais precários do trabalho continua sendo a indústria, que deve rever seus conceitos no que tange benefícios e direitos do trabalhador e a flexibilização de horário de trabalho para atrair essa juventude e não sofrer com a falta de mão de obra.
Tiago Souza, Coletivo de Jovens Trabalhadores da CTB/RS