Feridas nacionais

Os crimes na Petrobras chegaram à casa dos bilhões. Transformaram o Mensalão no irmão mais novo, por incrível que pareça. O caso acende uma indagação de ordem filosófica: há limite para a opulência da imoralidade nas relações humanas, especialmente no mundo dos negócios? O escândalo envolve grandes empreiteiras – multinacionais. Empresas que extraem capital de dezenas de países, em escala intercontinental. A elas, não há limite para o tamanho da ambição.
Os crimes da operação Lava Jato desnudam um prolífero mercado, onde pagar e exigir propina, comprar votos no Congresso e atuar como lobista entre os detentores do poder instituído faz parte do jogo. Nas galerias da persuasão, os jogadores mais desprezíveis sagram-se vencedores. E mesmo vindouramente condenados, a lei apresenta critérios para suavizar o cumprimento das penas. A maioria continua levando excelentes vidas, confortáveis como as massas jamais terão o prazer.
Por dinheiro e influência, algumas transgressões se tornaram praxe: é válido sobrepor os valores que regem nosso Estado Democrático de Direito; é possível, inclusive, ultrajar a liberdade alheia, que fica a mercê de atos escusos patrocinados pela alucinação ao poder. A condescendência com a corrupção causa a falência de nossas instituições públicas, que, a cada nova denúncia escancarada, perdem a confiança do contribuinte. Não conseguem fechar o cerco a ações abjetas de seus servidores.
Enquanto isso, o povo sangra seu desgosto. A decisão judicial que apontará os pivôs do escândalo não passa de um antídoto incipiente, um veredito incapaz de reparar a ferida nacional. A cicatriz da Petrobras permanecerá eternamente no coração do brasileiro, como exemplo do potencial e da liberdade que os corruptores têm para delinquir. Está na hora de combater as causas, não as consequências.
Gabriel Bocorny Guidotti, Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo