V de Vingança

Por Nicole Roth

Tarefa nada fácil, a graphic novel V de Vingança, do cultuado e controverso autor Alan Moore, foi adaptada para os cinemas em 2005, dirigido por James McTeigue sob a tutela das agora irmãs Wachowski, que também assinam o roteiro do longa. No filme, a protagonista Evey, interpretada por Natalie Portman, vive em uma Inglaterra futurista, na qual um regime fascista – com toda a repressão e preconceito que a palavra carrega – impera. Uma noite, quando ignora o toque de recolher, Evey conhece V, uma figura obscura que luta por liberdade – nas mais diversas formas – e se esconde embaixo de uma máscara de Guy Fawkes. V alista Evey em seus planos de derrubar o regime.

Nada que é posto em tela em V de Vingança é por acaso: as cores que identificam o partido que governa o universo do filme – assim como na HQ – remetem ao nazismo alemão; todos os detalhes estéticos, desde a estátua da Justiça escolhida pela direção até a própria máscara de Guy Fawkes usada por V, têm um significado para a trama.

Trama, aliás, que diverge da história original contada por Alan Moore, em vários sentidos. Mas o mais contestado pelos fãs da graphic novel é o posicionamento ideológico de V, que é originalmente um anarquista, e aqui surge como um libertário do povo. A opressão – e, portanto, a necessidade de lutar por essa liberdade – é expressa das mais diversas formas, a começar pelos meios de comunicação, que são do governo e que tem como principal representante A Voz – o sujeito que fala a todos em nome do governo. Há os Homens Dedo, que como o nome já diz, deduram aqueles que não respeitam as regras do regime, e aquela que é talvez a forma mais cruel de cercear a liberdade alheia: não há espaço para diversidade. Seja de gênero, opção sexual ou ideologia.

V de Vingança tem vários aspectos muito bem trabalhados que conquistam o espectador. A atuação de Natalie Portman não está menos do que perfeita, assim como a dicção de Hugo Weaving, o homem por trás da máscara de Guy Fawkes. Há uma veia investigativa que agrada aos fãs de filmes policiais, e as discussões políticas e ideológicas são intercaladas por uma boa (mas controlada) dose de ação. Tudo isso faz de V de Vingança um filme memorável – mas é a necessidade latente do ser humano de ser aceito por quem ele é, tão bem retratada em tela, que faz desse um longa metragem inesquecível.