Um Domingo Qualquer

É comum, quase inevitável, pensar em filmes de máfia ou com tramas policiais quando se fala em Al Pacino. O estigma surgiu já em 1972, quando o então praticamente desconhecido ator aceitou o papel de Michael Corleone em O Poderoso Chefão. Desde então, Pacino colecionou participações em dezenas de filmes nos quais ou era o bandido ou o policial que caçava o criminoso. É essa bagagem que faz com que sua interpretação de um técnico de futebol americano que está prestes a ser demitido, em “Um Domingo Qualquer”, seja tão revigorante – na época, o próprio ator admitiu que sua principal razão para aceitar o papel foi a mudança de ares que um filme do gênero lhe proporcionaria.

Tony D’Amato, o personagem de Al Pacino, é o treinador do Miami Sharks, que, com seu principal jogador – o capitão Jack Rooney, interpretado por Dennis Quaid – passando por várias complicações físicas, perde quatro jogos seguidos no campeonato. Tony se vê pressionado por todos os lados a ganhar a próxima partida a qualquer custo. A pressão vem da presidente do clube, dos membros da equipe técnica do Miami Sharks ou de si mesmo – Tony começa a ter dúvidas sobre sua própria intuição como técnico e sobre suas decisões de jogo. Mais do que um simples filme sobre futebol americano em que o espectador acompanha a trajetória da equipe e sua luta rumo à vitória, este longa de 1999 é também uma afirmação a respeito da natureza do esporte – aqui retratado como um esforço em equipe, no qual nada dará certo se o jogador não tiver a confiança do companheiro ao seu lado (nisso, como acontece em muito do que é visionado pelos norte-americanos, o futebol deles é extremamente semelhante a uma guerra, da qual um soldado não sai vivo sem a ajuda de seu companheiro de batalha). Já em 1999, a perigosa tendência de tratar do esporte como um negócio, e apenas um negócio, é uma discussão que se faz presente durante os cento e vinte e seis minutos do filme – com ênfase nos seus minutos finais.

As decisões de D’Amato são questionadas principalmente por Willie Beaman, o quarterback desconhecido que substitui Jack Rooney por alguns jogos. Jamie Foxx, que dá vida a Beaman, é quem, em última análise, força D’Amato a se renovar e seguir em frente, antes que se torne obsoleto.

“Um Domingo Qualquer” é um filme relativamente leve nas filmografias de seu ator principal e também de seu diretor: Oliver Stone é responsável por obras grandiosas – e pesadas, no que diz respeito a suas temáticas – como “Platoon”, “JFK – A Pergunta que Não Quer Calar” e “Nascido em 4 de Julho” e, assim como Al Pacino, ao escapar de sua zona de conforto, faz deste “Um Domingo Qualquer” uma peça singularmente agradável e bem executada de sua filmografia.