U2: Rattle and Hum

Por Nicole Roth

Trinta anos é bastante tempo. Para alguns, uma vida inteira. Em 2017, a banda irlandesa U2 comemora os trinta anos de lançamento de seu álbum “The Joshua Tree”, para muitos o melhor álbum da carreira da banda. Na época em que o álbum foi lançado, a popularidade do grupo era tanta que poucos ousavam discordar de que, naquele período, o U2 era a maior banda do mundo. Hoje, três décadas depois, o quarteto provou que, ao menos no Brasil, sua popularidade permanece intacta: o grupo incluiu São Paulo em sua tour de comemoração dos 30 anos do disco e, na primeira noite de vendas (online) de ingresso para o público geral, os bilhetes se esgotaram em questão de 2h, e a venda geral da segunda data teve seus ingressos esgotados após 1h30. Uma terceira data terá a abertura das vendas a partir da meia-noite desta quinta-feira (29) e tudo indica que a procura deve ser tão massiva quanto nas datas anteriores.

E foi há trinta anos atrás que a banda irlandesa fez sua tour do Joshua Tree pela América do Norte, experiência que ficou registrada no documentário Rattle and Hum, lançado em 1988. A produção, que na época não custou barato ao quarteto irlandês, traz momentos dentro e fora do palco, durante a passagem da banda pelos Estados Unidos – e pode-se dizer que é peça chave para entender a relação tão próxima da banda com o país norte-americano. Até em questões de sonoridade: o U2 nunca soou tanto como uma banda de rock puro, com altas influências norte americanas, quanto em sua tour de 30 anos atrás. Todas as indicações estão lá: a disposição da banda em entrar em uma igreja do Harlem e fazer de “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” uma canção verdadeiramente gospel, o cover inspirado de “All Along the Watchtower.”

Boa parte do documentário, dirigido por Phil Joanou, é filmado em preto e branco – a escolha parece dar um ar mais intimista ao filme. O momento em que a filmagem deixa de ser em preto e branco é surpreendente – até para quem não está vendo o documentário pela primeira vez, o timing da virada não deixa de ser emocionante. As lentes da câmera, que segue Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr durante os 99 minutos do documentário, indo das ruas do Harlem à casa de Elvis Presley, em Memphis, focam nos quatro músicos mesmo durante as filmagens dos shows da banda – nos momentos finais do documentário, quando finalmente temos uma visão mais clara da plateia do U2, a impressão que dá é de que estamos vendo uma colméia: um verdadeiro mar de gente, que é orquestrado e se move de acordo com o ritmo das canções do quarteto irlandês.