Spotlight: Segredos Revelados

Por Nicole Roth

Em um primeiro momento, o aspecto mais proeminente de Spotlight – que aqui no Brasil ficou sendo “Spotlight: Segredos Revelados” – é, sem dúvida, seu elenco estelar. Encabeçado por Michael Keaton e Mark Ruffalo, que vivem dois repórteres da editoria Spotlight – uma seção especial do Boston Globe, que escolhe um assunto para se aprofundar, em investigações que podem levar até um ano para estarem completas -, a lista de atores competentes segue com Rachel McAdams, Leiv Schreiber, John Slaterry e Stanley Tucci, sendo que Mark Ruffalo e Rachel McAdams concorrem ao Oscar de melhor ator/atriz coadjuvante neste ano.

Mas é o roteiro – que inclusive concorre pelo Oscar de Melhor Roteiro Original – que faz de Spotlight uma grande obra cinematográfica. O roteiro escrito por Josh Singer e Tom McCarthy (que também concorre pelo Oscar de Melhor Direção pelo longa) dá conta da investigação dos repórteres da editoria Spotlight, que expôs ao mundo o gigantesco escândalo de abuso sexual de crianças por padres e o subsequente encobrimento dos casos pela Arquidiocese Católica de Boston. Não é à toa que uma das frases usadas para promover o filme, que retrata o episódio real ocorrido em Boston no início dos anos 2000, é “Quebre o Silêncio”, já que os casos revelados pelo jornal eram tão irrefutáveis e em uma quantidade tão indesculpável que o trabalho dos profissionais abalou os alicerces de toda a Igreja e comunidade católica. A gigantesca reportagem – e a estrondosa repercussão que ela gerou, nos comentários – ainda está disponível no site do Boston Globe, na seção Spotlight.

Diante de um assunto tão delicado quanto relevante, a condução do roteiro e direção do longa é irrepreensível. Tal qual um repórter que sabe deixar de lado suas opiniões e preconceitos ao escrever uma matéria, a direção de Spotlight foca nos fatos: o drama está onde deve estar, nos crimes que são descobertos pela equipe da seção. Não há tramas pessoais dos personagens sendo desenvolvidas em tela, mas sim um acompanhamento sutil de como cada um lida com os fatos que vão descobrindo ao longo da investigação. O drama pessoal, no final das contas, não faz falta, não afeta o envolvimento do espectador com o filme. A própria trama, a medida que vai tornando não só os abusos mas também a ciência e negligência da Igreja diante deles – bem como seus esforços para travar a investigação dos repórteres – algo inegável, é mais do que o suficiente para deixar qualquer um indignado e movido, emocionalmente, com aquilo que se vê em tela.

Spotlight é um retrato do por que um jornalista faz o que faz e, por consequência, um registro da importância de se contar histórias para o mundo – seja por meio da escrita ou do audiovisual.