Psicose

Dos seus mais de sessenta filmes (quase setenta), talvez Psicose seja o título pelo qual Alfred Hitchcock, o Mestre do Suspense, seja mais conhecido. O clássico de 1961, embora datado pelos tons de preto e branco da filmagem, ainda mantém o espectador grudado na cadeira, sendo perturbador e instigante ao mesmo tempo.

Aqui, somos apresentados à Marion Crane, secretária de uma imobiliária que, após roubar 40 mil dólares de um dos clientes da empresa, parte em fuga e acaba se hospedando no hoje famoso Motel Bates – cabe aqui dizer que, motel, na cultura americana, é apenas um hotel de beira de estrada – durante uma forte chuva, pretendendo seguir viagem no dia seguinte. Lá, ela conhece Norman Bates, que administra o local com a mãe, uma senhora tão idosa quanto controladora, que domina as decisões do filho.

Uma das particularidades que fizeram de Psicose um suspense tão bem-sucedido e que entrou para a história – além, é claro, de contar com o olhar crítico e preciso de Hitchcock, sempre certeiro na hora de fazer o público prender a respiração -, é a trilha sonora original do filme, de autoria de Bernard Hermann (que também foi responsável pela trilha de Cidadão Kane): nem os créditos iniciais escapam do toque sinistro de suas notas, que dão a atmosfera para o filme inteiro. A trilha tem tanta personalidade que ajudou a construir uma das cenas mais icônicas da história do cinema.

A cena icônica, aliás – ou, “a cena do chuveiro”, como ficou conhecida -, eternizou o grito de desespero e horror de Janet Leight. Mais de cinquenta anos depois de sua estreia, é preciso viver em outro planeta para não ter se deparado com a famosa passagem do longa. O que surpreende a muitos marinheiros de primeira viagem é que esse não é o desfecho da história de horrores do Motel Bates, mas, de certa forma, apenas seu começo.

É impossível falar dos êxitos do longa sem mencionar Anthony Perkins. Ainda que não tenha feito nada mais de notável em sua carreira, aqui ele une estranheza, fraqueza e loucura de forma magistral, ao interpretar o dúbio e atormentado Norman Bates – ninguém que vê Psicose encarará as frases “o melhor amigo de um menino é sua mãe” e “não faria mal a uma mosca” da mesma maneira. As nuances na performance de Perkins são mais do que o suficiente para fazer o espectador chegar ao final do filme com um frio na espinha.

Psicose é um atestado dos motivos pelos quais Alfred Hitchcock é conhecido como o Mestre do Suspense: ele é capaz de fazer o espectador ter medo sem saber por quê (sem saber do que), usando-se apenas da música e do enquadramento certo para fazê-lo – um simples veículo no retrovisor do carro da personagem principal é capaz de fazer qualquer um roer as unhas.