Perdido em Marte

Por Nicole Roth

Em Perdido em Marte, Matt Damon faz o papel de Mark Watney, um astronauta da NASA que, durante uma missão em Marte, acaba sendo deixado para trás por seus colegas de equipe – que acreditam que Mark está morto, após ser atingido por detritos durante uma tempestade. É aí que o espectador é apresentado ao grande problema de Mark Watney: ele está vivo – sozinho – em Marte.

Neste que é seu melhor filme em dez anos, o diretor Ridley Scott consegue um feito em tanto: equilibra ciência – o astrofísico Neil deGrasse Tyson, que criticou duramente o recente Gravidade, foi só elogios para Perdido em Marte – e humor. Em Perdido em Marte, a ciência é reproduzida com humor. Em tempos em que a cultura nerd/pop está em alta, nada mais acertado do que colocar as cabeças pensantes da Nasa para brilhar na tela do cinema, como Scott faz.

Pois não é apenas Mark Watney, o botânico da mal-sucedida missão, que ganha destaque no longa, mas também os personagens que compõem os outros núcleos do filme: o núcleo da Terra, que mostra como a Nasa descobre que Watney sobreviveu e passa então a tentar encontrar uma maneira de resgatá-lo, é cheio de personagens e performances cativantes. O terceiro núcleo, da nave na qual o restante da equipe parte para retornar à Terra, encontra sua força, principalmente, na interpretação de Jessica Chastain, como a Comandante Lewis. É tão fácil para o espectador se relacionar com Mark Watney, o náufrago de Marte, quanto com a Comandante Lewis, a mulher que é obrigada a deixar seu tripulante para trás, para que possa salvar o resto de sua equipe. O peso que a personagem de Chastain carrega por ter tomado essa decisão fica evidente durante todo o longa.

Outro personagem que carrega um peso enorme nas costas é Teddy Sanders, o diretor da Nasa, interpretado magistralmente por Jeff Daniels (pensem em The Newsroom, e não em Debi & Loide). Ele empresta dignidade e, ao mesmo tempo, sensibilidade ao personagem, que poderia facilmente ter se transformado em um vilão, se estivéssemos falando de um filme comum. Da maneira como foi conduzido, o único possível vilão da trama é o tempo, contra quem todos os personagens travam uma batalha. Como este não é um filme comum, o diretor da Nasa de Ridley Scott é tão humano quanto o resto de seus funcionários, algo que fica evidente em uma das cenas mais engraçadas do filme, que fará qualquer fã de O Senhor dos Anéis agradecer a Ridley Scott por ter escalado Sean Bean para participar de Perdido em Marte.

Com um bom roteiro e ótimas performances, este filme de Scott também cumpre o papel de lembrar ao espectador, afinal, que há um mundo inteiro lá fora – que merece e deve ser explorado.