O Sol é Para Todos

Por Nicole Roth

Em 1962, o clássico da literatura O Sol é Para Todos, de Harper Lee, foi adaptado para o cinema, estrelando Gregory Peck no papel do advogado Atticus Finch, que, no Sul dos Estados Unidos da Era da Depressão, defende um homem negro que é acusado de estupro – uma acusação sem fundamento, como o espectador aprende logo no início do filme. O início do filme, aliás, pouco tem a ver com o julgamento: uma das coisas mais surpreendentes, especialmente para o espectador de hoje, que espera ser jogado na ação nos primeiros minutos de filme, é que o longa metragem dirigido por Rupert Mulligan passa muito tempo simplesmente transpondo o espectador para aquela ambientação, aquela época – e apresentando o espectador aos filhos de Atticus, que os cria sozinhos. As crianças, aliás, são a lente através da qual o espectador acompanha o desenrolar do caso de Tom Robinson, o réu do julgamento.

Para tratar do racismo, há várias sutilezas do roteiro, que deixam a posição de Finch, como advogado de defesa e também como alguém que tem aversão ao racismo, clara para o espectador: há a maneira como ele trata o cliente, como ele defende seu direito de ter uma defesa, a preocupação em visitar sua família – todos esses pequenos atos culminam na visão emblemática de seus dois filhos, Jem e Scout, assistindo ao julgamento não ao lado dos brancos, mas entre os negros, que ficam segregados no segundo andar da sala de tribunal. Quando Gregory Peck finalmente entrega seu famoso discurso de nove minutos, intercedendo a favor do cliente e de todos os negros da cidade, a sensação é de dever cumprido, antes mesmo do final da fita: o objetivo dela, de mostrar o quão irracional o racismo é, foi atingido. É uma história que teve grande relevância e repercussão na época em que foi lançada, no início dos anos 60, que trariam mudanças nesses aspectos, e é de suma importância ainda hoje, em que movimentos como o #BlackLivesMatter ainda se mostram necessários para a causa.