Margin Call – O Dia Antes do Fim

Por Nicole Roth

É preciso ter muita carta na manga para escalar Kevin Spacey e Jeremy Irons no seu primeiro longa metragem. Foi o que fez J. C. Chandor, diretor de Margin Call – O Dia Antes do Fim, lançado em 2011.Chandor é também o roteirista do filme, que acompanha um caso de falência de um banco de investimentos – que, ao que tudo indica, baseia-se no caso do Lehman Brothers – que funciona como um prelúdio para a crise financeira generalizada de 2008, quando o escândalo dos créditos imobiliários – que, por sua vez, tiveram seu papel na recessão americana – ficou conhecido mundialmente.

O longa já começa com uma tensa cena de demissões em massa no banco, quando vemos Eric Dale (Stanley Tucci, impecável como sempre), o chefe do departamento de risco, ser demitido – não sem antes alcançar um inofensivo pen drive a Peter Sullivan (Zachary Quinto, que, ainda colhendo os louros de Star Trek, ajudou a produzir o filme), se despedindo com as seguintes palavras: “Tenha cuidado”. É finalizando a análise salva no pen drive que Peter chega à conclusão de que a empresa está à beira da falência.

Margin Call se passa em um período de doze horas, a maioria delas noturnas. O diretor aproveita esse tempo, no qual os personagens estão mergulhados em questionamentos, para realizar um estudo de personagens em meio à crise. Dispondo de atores como Demi Moore e Paul Bettany, Chandor faz com que os momentos instropectivos se encaixem facilmente na narrativa do filme.

O sucesso da decisão do diretor em focar seu filme nos personagens e não na crise em si é, sem dúvida, em grande parte um mérito de Kevin Spacey e Jeremy Irons. Fica quase difícil lembrar do tempo em que Kevin Spacey entregava uma série de atuações apáticas e indiferentes, já que aqui ele é o protagonista Sam Rogers, o homem em cujos ombros repousam a responsabilidade de decidir o futuro da companhia, se ela sequer terá um futuro – e a que preço esse futuro será conquistado. Chega a causar um estranhamento no espectador que acompanha o trabalho do ator em House of Cards, onde questões éticas nem passam pela cabeça de Frank Underwood.

Cabe ao personagem de Jeremy Irons, o chefe executivo da companhia, representar o outro lado da balança: acompanhamos seus esforços para convencer Rogers a tomar medidas não tão éticas assim para salvar a empresa – tudo com uma eloquência da qual apenas Jeremy Irons é capaz.

Ainda que seja mais um filme sobre personagens do que sobre um momento catártico na história recente, o então estreante J. C. Chandor entrega um longa eficiente, que cativa até mesmo o espectador que nada entende sobre o mercado financeiro e suas crises.