Manchester à Beira-Mar

Por Nicole Roth

Em certos filmes, é possível apontar com certeza quase que absoluta quais as cenas que renderam aos atores indicações ao Oscar de melhor performance. Manchester à Beira-Mar tem pelo menos dois desses momentos – e muitos outros momentos dignos de nota. Nesse longa, que levou os prêmios de melhor ator (para Casey Aflleck) e melhor roteiro original (para Kenneth Lonergan, que também é o diretor do filme), acompanhamos a trajetória de Lee Chandler, que precisa cuidar do sobrinho Patrick, após a morte do irmão. É um filme sobre perda, sobre luto e – ao contrário de muitas histórias, que insistem na superação dos traumas, algo que na realidade nem sempre é possível – sobre como certas dores simplesmente não podem ser superadas.

E é justamente pela maestria com que interpreta um homem quebrado – por razões que não ficarão claras até a metade final do filme – que Casey Affleck levou a estatueta de Melhor Ator Principal. Manchester prima também por ter um elenco de apoio talentoso, com Kyle Chandler e Michelle Williams (também indicada ao prêmio de Melhor Atriz, também por uma cena muito específica) e pela fotografia impecável. O roteiro de Lonergan, além de tratar de dor e perda de uma forma muito real, também é eficaz ao fazer com que o espectador se sinta na pele dos personagens. Particularmente no caso de Lee, que começa o filme como um sujeito esquisito, solitário e, às vezes, bêbado e brigão. Ficamos nos perguntando o que diabos aconteceu com aquele homem, e, quando a revelação vem, é em uma das cenas mais fortes e bem feitas do longa.

Entre personagens bem escritos e bem desenvolvidos em tela e uma direção firme de Kenneth Lonergan, Manchester à Beira-Mar se coloca como um dos melhores filmes do último ano, entregando um retrato que é, sobretudo, muito honesto e visceral de como o ser humano lida com perdas.