Logan

Por Nicole Roth

Era possível perceber que Logan seria um filme totalmente singular, no universo cinematográfico dos X-Men, assim que o trailer do longa metragem passou a ser divulgado. No embalo da voz melancólica de Johnny Cash cantando “Hurt”, o trailer dava aos espectadores o tom pouco otimista e pesado do longa. Esse clima é reforçado logo na primeira cena de Logan, quando nos deparamos com o X-Man antes conhecido como Wolverine, e aos poucos vamos descobrindo que o tempo não foi muito gentil com o mutante – ou com qualquer um deles. Logan passa seus dias trabalhando para conseguir cuidar de um velho e doente Professor Xavier, com a ajuda do mutante “farejador” Caliban. O ano é 2029, e não há registros de novos mutantes há 25 anos – até que a pequena e letal Laura (que os fãs reconheceram pela alcunha de X-23) é posta no caminho de Wolverine, que é encorajado por Xavier a ajudar a criança.

Muito mais um faroeste do que um filme de super heróis – efeito reforçado pela fotografia, pelas locações e até pela ótima utilização de Os Brutos Também Amam na trama -, Logan é talvez o mais humano dos filmes de quadrinhos, porque trata justamente daquilo que inevitavelmente nos torna meros mortais: a velhice. São contra a velhice e a doença – dele e de Xavier – que Logan luta, na maior parte do filme. Luta também para sobreviver em um mundo que já não vê mutantes com bons olhos, ou se vê, é com uma visão fantasiosa e irreal, que pouco tem a ver com a realidade imperfeita que o personagem de Hugh Jackman conhece. A separação deste filme de todos os outros da franquia X-Men (e, porque não, das demais franquias de histórias em quadrinhos no cinema) não poderia ser mais clara do que quando Logan repudia as revistas dos X-Men, que fazem uma aparição no filme, como fantasias de pessoas que não sabem o que realmente aconteceu com ele ou com os demais mutantes.

Não é à toa que o filme foi promovido ao som “Hurt”: a dor é um tema central em Logan; seja a dor que vem da doença, do envelhecimento, da perda, ou do reconhecimento de seus erros. Cada cena, que leva ao final inevitável do longa, nos machuca um pouco mais, e torna seus personagens um pouco mais humanos.