Labirinto – A Magia do Tempo

Por Nicole Roth

De certa forma, Labirinto – A Magia do Tempo é um precursor da franquia Toy Story: o longa fala sobre um tempo em que as crianças usavam imaginação para brincar, em uma época anterior à televisão e videogames, sobre o processo de amadurecimento, de criança para adolescente, que todos nós passamos e com o qual sempre nos identificamos. Labirinto chega até mesmo a brincar, de forma sutil e passageira, com a eterna questão do “que acontece aos nossos brinquedos quando não estamos lá?”’ e, de uma forma mais direta e central, discute a importância da responsabilidade enquanto estamos no caminho para nos tornarmos adultos.

Todas essas mensagens são passados ao espectador através de uma ótica fantasiosa, afinal, em Labirinto, acompanhamos Sarah, uma menina de 15 anos que, como a maioria das meninas de sua idade, prefere ficar brincando até tarde na rua do que cuidar do irmão, ainda bebê, para que os pais possam sair para jantar. Uma das brincadeiras favoritas de Sarah tem a ver com um livro de fantasia que fala sobre o Rei dos Duendes, que vem buscar àqueles que são oferecidos a ele, para se tornar um de suas criaturas. Sarah faz exatamente isso: após proferir as palavras mágicas, o irmão é levado pelo Rei dos Duendes e, ao perceber as consequências de seus atos, ela ganha um prazo de 13 horas para resgatar o irmão. Durante essas horas, ela precisa resolver os quebra-cabeças dentro do labirinto que a levará à Cidade dos Duendes, onde Jareth, o Rei, mantém o seu irmão.

A graça de Labirinto está, primeiramente, em seu elenco. Em sua interpretação de Jareth, o Rei dos Duendes, David Bowie diverte, amedronta e encanta o público. As inserções com os números musicais, que poderiam soar estranhas e deslocadas, ocorrem sem comprometer o ritmo do filme, dando a Bowie uma chance de interpretar em tela muitas das canções compostas por ele mesmo para o longa. Como Sarah, a irmã arrependida, a então quase desconhecida Jennifer Connelly se mostra capaz de transparecer claramente os dilemas impostos pela transição de fases que vive, em sua relutância em deixar a infância para trás e assumir responsabilidades, que se tornarão cada vez mais frequentes em sua vida. Por fim, o grande destaque da fita, que em 1986 trouxe a primeira tentativa de fazer um personagem em CGI com aparência real – uma coruja -, é certamente seu departamento de arte. As criaturas fantásticas são, em sua maioria, atores em fantasias e muita maquiagem, o que faz com que, embora fantasiosos, os personagens se tornem palpáveis para o público, que, independente da idade, também consegue se relacionar à lição sobre responsabilidade e crescimento que é, no fim das contas, a grande mensagem de Labirinto.