Jogo do Dinheiro

Por Nicole Roth

Quarto longa metragem dirigido pela também atriz Jodie Foster, Jogo do Dinheiro é muitas coisas: é um filme de ação e tensão, com sua temática do “sequestro ao vivo”; é uma crítica à cultura do dinheiro acima de tudo e é também, de maneira sutil e quase disfarçada, uma crítica de mídia. O filme dá conta de uma história do tipo “pessoas colocadas em uma situação extrema”: o apresentador de TV Lee Gates (George Clooney), que é host de um programa financeiro – que parece ter pouco conteúdo e humor demais -, a produtora do programa, Patty Fenn (Julia Roberts) e mais uma meia dúzia de empregados são sequestrados ao vivo: um telespectador irado (Jack O’Connell), cujo investimento deu errado, assume o controle do estúdio, ameaça matar Lee e explodir o estúdio inteiro com uma bomba.

Há vários fatores que fazem Jogo do Dinheiro funcionar: a tensão que surge da situação, embora bem desenvolvida, também é bem equilibrada com doses de humor – o sequestro ao vivo acaba sendo um “acontecimento”, em termos de mídia – e mesmo de humanidade. É perceptível o cuidado que o roteiro têm de humanizar Kyle Budwell, o sequestrador. Conforme a história vai se desenrolando, fica claro, tanto para o público que assiste ao longa quanto para o apresentador, que Kyle é um homem comum.

Jogo do Dinheiro é o quarto filme em que Roberts e Clooney trabalham juntos e, embora os dois não tenham muito tempo de tela juntos, essa experiência ajuda a compor a familiaridade entre seus próprios personagens, que há tempos se aturam. É nesses momentos que surge a crítica quase velada ao circo midiático que muitas vezes compõe a programação televisiva – a própria Patty Fenn diz que“faz anos que o que fazemos deixou de ser jornalismo”. Kyle é outro dispositivo que traz essa reflexão à tona: quando Lee Gates instiga seus telespectadores a apostarem suas fixas em uma empresa (cujo dono acabará sendo peça fundamental para o desfecho do longa) que acaba sofrendo perdas financeiras duas semanas depois, ele encara isso como a simples realidade: investimentos nem sempre dão certo. É preciso que Kyle entre em sua vida para que essas perdas se tornem palpáveis – sua intervenção serve até mesmo como uma reflexão mais profunda para o personagem de George Clooney. O ator parece ter sido escolhido a dedo para o papel, pois começamos o filme sendo apresentados a um homem ligeiramente asqueroso, e Clooney faz sua transição, de personagem pouco gostável para um pessoa que admite seus erros e se torna até carismática aos olhos do público, de uma forma fluida e cativante, fazendo de Jogo do Dinheiro um filme que vale o tempo e dinheiro investido pelos espectadores.