Ele Está de Volta

Por Nicole Roth

Em Ele Está de Volta, filme dirigido por David Wnendt e baseado no livro de Timur Vermes, Adolf Hitler acorda na Berlim de 2014, como se estivesse passado os últimos 70 anos apenas dormindo. Totalmente perdido, ele vaga pelas ruas de Berlim e logo chama a atenção do povo e da mídia local. Tomando o Führer verdadeiro por um simples ator que faz uma imitação genial do verdadeiro líder nazista, a primeira reação da maioria das pessoas – incluindo o jornalista freelancer que encontra em Hitler a salvação de seu emprego – é de achar graça nos comentários e no comportamento do ex-ditador, o que gera algumas situações genuinamente engraçadas no início do filme; porém, conforme a história avança, Ele Está de Volta vira um estudo sobre o momento socioeconômico que vivemos, sobre intolerância e extremismo.

Metalinguagem é talvez a palavra que defina esse longa metragem de 2015. Conforme a história do filme progride, Hitler vira a sensação de uma emissora de televisão alemã e, após cair na desgraça do povo alemão, ele escreve um livro, que no filme tem o mesmo título, a mesma capa e até o mesmo preço de venda que o livro que originou o longa. Em certo ponto, temos um filme sendo filmado dentro do filme que assistimos. Porém, talvez a sacada mais genial do longa é ter colocado Hitler nas ruas e filmado a reação de pessoas reais – não são figurantes reagindo em tela ao retorno do nazista, mas transeuntes que estavam nas ruas de Berlim quando a equipe de filmagem sai em público com o ator Oliver Masucci – que improvisou muitas de suas falas – caracterizado como Hitler pela primeira vez. Esse efeito de realismo no filme é reforçado pela câmera quase documental do longa.

Há uma nítida mudança de tom no filme, antes era uma comédia leve, com uma fotografia de cores vivas e alegres. Conforme Hitler ganha mais e mais atenção da população, as pessoas começam a realmente dar ouvidos ao que o Führer diz – não demora para que comecem a surgir aqueles que veem no discurso de Hitler ideias que não tinham coragem de expressar. É essa a força de Ele Está de Volta: colocar em pauta o quão perigoso – e o quão atual – é a intolerância com o diferente. É o que faz o filme valer a pena, mesmo com o final apressado da fita.