Drive

Por Nicole Roth

O grande acerto – entre tantos outros – de Drive é contar muito dizendo pouco. O que diz respeito não só à curta duração do longa-metragem lançado em 2011, cuja história se desenvolve ao longo de 1h40, mas também ao fato de Drive ser um filme que conta com pouquíssimos diálogos, em especial nas cenas envolvendo o quase monossilábico personagem principal, interpretado por Ryan Gosling.

Neste filme do diretor Nicolas Winding Refn, o personagem de Gosling é simplesmente conhecido como o “motorista”. Sua interpretação do “homem sem nome”, tipo eternizado por Clint Eastwood, lembra em muito os personagens de Eastwood, não só por suas poucas falas, mas também por ser um tipo com uma habilidade que o distingue. Aqui, o personagem principal, que durante o dia trabalha em uma mecânica e faz bicos como dublê em filmes, empresta suas habilidades para quem estiver disposto a pagar por um motorista que conheça as ruas de Los Angeles com a palma da mão. “Me dê uma hora e um local, eu lhe dou uma janela de cinco minutos. Qualquer coisa que acontecer nesses cinco minutos, estou com você. Não importa o que for. Mas, se alguma coisa acontecer antes ou depois desses cinco minutos, você está sozinho. Você me entendeu?” É assim que o motorista “vende” seus serviços. Mas ele está prestes a ter uma reviravolta na carreira: o dono da mecânica, está para formar um grupo de corrida – e o personagem de Gosling é seu principal piloto.

O sucesso de Drive se deve a um conjunto de elementos bem desenvolvidos durante sua trama. A interpretação intensa de Ryan Gosling – cuja expressão pode ir de amigável a ameaçador em questão de segundos – vai ao encontro da serena Carey Mulligan, que faz o papel de Irene, vizinha do motorista. São com ela e seu filho que o personagem principal forma uma conexão, que pode atrapalhar seu futuro promissor.

Existe também um uso muito acertado da trilha sonora do filme, que é espetacular e contribui para adicionar sensibilidade ao longa – e fazer do nosso personagem principal, também, um homem mais sensível e ao mesmo tempo capaz de atos extremos. Mais marcante que a música, porém, é o silêncio: Drive é a prova de que aquilo que não é dito é tão ou mais importante do que aquilo que é dito.

Adaptação de um livro homômino, o script de Drive inicialmente previa mais diálogos entre os personagens de Mulligan e Gosling – porém, os atores optaram por diminuir suas falas. A decisão transformou os olhares trocados entre os dois um dos aspectos mais marcantes da produção, que acaba sendo uma aula de ritmo e desenvolvimento de trama.