Dr. Fantástico

Por Nicole Roth

Dr Fantástico, a última obra cinematográfica de Stanley Kubrick que foi rodada em preto e branco, foi lançada há mais de cinquenta anos, mas em muitos aspectos, é tão atual que chega a assustar. O longa, que também é conhecido por “Dr Fantástico ou: Como eu Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba”, é uma comédia de guerra, uma sátira à Guerra Fria, que não poupa nenhum dos lados e ridiculariza até a mais alta cúpula do governo americano. Neste filme, um dos generais dos Estados Unidos sucumbe à insanidade e dá início a um confronto armado que a Guerra Fria jamais alcançou na nossa realidade, levando os personagens da trama a um eminente holocausto nuclear, avanços que generais, políticos e o presidente dos Estados Unidos tentam evitar a qualquer custo, reunidos em sua Sala de Guerra.

Dr Fantástico é ao mesmo tempo um filme datado – impossível comparar os efeitos especiais disponíveis na época aos que Hollywood tem acesso hoje – e extremamente atual. A Guerra Fria, mesmo sem ter desencadeado confronto armado, ainda assombra o mundo – seja por medo de que alguma arma nuclear ou simplesmente desconhecida esteja estocada em algum lugar, apenas aguardando um motivo para ser usada, ou pelas consequências que a intolerância ideológica pode trazer.

O espectador percebe que Dr Fantástico não é um filme comum quando, de cara, é apresentado a uma declaração antes do início do filme, que nos deixa saber que os Estados Unidos têm defesas e seguranças a postos, para evitar que a sequência de eventos do filme não aconteça. De Fantástico foi responsável por mudanças nos protocolos de segurança do exército dos Estados Unidos.

Se hoje ainda somos assombrados pela Guerra Fria, os personagens do mundo de Dr Fantastico são assombrados pelo fantasma não muito distante da Segunda Guerra. Se pegarmos apenas os três personagens interpretados por Peter Sellers – o primeiro ator a ser indicado a um Oscar por um filme no qual faz três personagens diferentes – , temos três homens completamente diferentes entre si, mas todos tocados pela Segunda Guerra. O primeiro, capitão Mandrake, foi capturado pelos japoneses durante o conflito na década de 40. O presidente dos Estados Unidos, que por ser a única voz sensata no filme acaba soando como um louco inocente, procura evitar que soldados morram como décadas antes, e por fim, o personagem título, é nada mais nada menos que um cientista alemão, que trabalhava para ninguém mais ninguém menos do que o próprio Fuhrer. Carregado por Peter Sellers, Dr Fantastico é um filme dono de frases geniais, como “Cavalheiros, vocês não podem brigar aqui! Essa é a Sala de Guerra!”, que escancara sem dó nem piedade o quanto a sociedade ainda precisa evoluir.