Divertida Mente

Por Nicole Roth

E a Pixar conseguiu novamente. O estúdio que ganhou a fama de ser capaz de “animar o inanimável” – começando por Toy Story, que em 1995 deu vida aos brinquedos, até o mais recente Carros, onde os veículos têm sentimentos e são praticamente “gente como a gente” – agora leva os espectadores para dentro de suas próprias mentes e antropormofiza os sentimentos. Sim, estamos falando de uma animação, que suaviza muitos conceitos e faz piadas com outros, mas é uma produção que permite uma discussão tão profunda e relevante sobre a mente humana quanto a que é levantada por filmes como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.

A Divertida Mente que acompanhamos pertence a Riley, uma menina de 11 anos de Minneapolis, que tem o que poderíamos chamar de vida perfeita: ela tem um pai e uma mãe que a amam, bons amigos e faz parte do time de hockey da cidade, esporte que ela adora. Até a família decidir se mudar para São Francisco e as emoções dentro da mente de Riley – Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho – precisarem lidar com essa mudança. São esses cinco sentimentos que controlam o cérebro de Riley, através da “sala de controle”, equipada com botões remascentes de um controle de videogame, que é também o local onde cada memória é formada. Um dos conceitos mais genais (e, ao mesmo tempo, simples) da animação são as “memórias base”, lembranças daqueles que são os momentos que nos definem, que formam nossa personalidade.

Divertida Mente é um longa que foi concebido com atenção a detalhes e a pequenos significados “escondidos” na trama – ou seja, como 90% das produções da Pixar, é um filme que possui camadas e camadas a serem analisadas – e um bom exemplo disso são os próprios sentimentos. Existem motivos até para a escolha das cores que os representam: Raiva é um sujeito atarracado, todo vermelho (quem nunca ficou “vermelho de raiva” que atire a primeira pedra) enquanto Tristeza é azul (em inglês, quando alguém está triste, costuma-se dizer que a pessoa está “feeling blue”, o que literalmente poderia ser traduzido como “7”).

A ideia do filme foi concebida por Pete Docter – que codirige a animação, junto a Ronnie del Carmen -, justamente quando ele acompanhava o crescimento e evolução da filha, da infância à adolescência. É precisamente aí que reside o maior triunfo do longa: se passar na fase de nossas vidas (fase pela qual todos passamos e com a qual todos nos identificamos) em que percebemos que a vida não é só Alegria – mas que a Tristeza não só é importante, como vital, para que possamos evoluir emocionalmente, amadurecendo e domando emoções cada vez mais complexas.