Por Nicole Roth
Houve um tempo em que Sessão da Tarde era sinônimo de grandes clássicos, filmes que marcaram época – em contraste com os filmes “tapa buraco” que ultimamente formam a programação do famoso canal de televisão. Houve um tempo em que os filmes das tardes da televisão aberta brasileira foram responsáveis pela formação do caráter de muita gente. Assim como Os Goonies e Curtindo a Vida Adoidado, Conta Comigo certamente foi um desses filmes que hoje representam uma geração inteira.
Baseado em um conto de Stephen King – em uma de suas poucas histórias que não envolvem algo sobrenatural – , o longa de 1986 é dirigido por Rob Reiner, que mais tarde adaptaria outra história de King para o cinema, em Louca Obsessão (1990). Ainda que essa não seja uma história fantasiosa, Conta Comigo mesmo assim apresenta toques macabros: no final dos anos 50, quatro meninos de 12 anos iniciam uma jornada para encontrar um corpo de um jovem – não muito mais velho do que os próprios meninos – que estava desaparecido. É através dos olhos de Gordie Lachance, um dos garotos de 12 anos, que acompanhamos essa jornada, que acaba servindo de pano de fundo para que eles possam discutir temas pesados como a morte e as escolhas que fazemos na vida, ou aquelas que deixamos que os outros façam por nós. Gordie precisa lidar com a morte do irmão mais velho – o preferido dos pais, que também não sabem como reagir à tragédia – enquanto que Chris Chambers é, como o próprio Gordie descreve, “o garoto que todos sabemos que não tem futuro. Ele mesmo sabe disso”. Chris Chambers, “o garoto sem futuro”, foi interpretado por River Phoenix – o que traz um certo desconforto e nostalgia a quem assiste a Conta Comigo hoje em dia. Phoenix, que morreu aos 23 anos, vítima de uma intoxicação por drogas múltiplas, tinha apenas 16 anos quando o filme foi lançado, e já era um ator de muito sucesso na época. Além de River Phoenix, outras personalidades que ganharam reconhecimento dão força e credibilidade ao filme: John Cusack faz o irmão mais velho de Gordie, enquanto que Kiefer Sutherland faz um papel menor como um jovem delinquente da época, muito antes de estourar como Jack Bauer em 24 Horas.
A grande força de Conta Comigo, porém, está em sua história datada (a ambientação do filme, com carros e músicas características da época, nos transportam para o clima “quase anos 60” da adolescência dos protagonistas) e atemporal, mostrando o poder das nossas escolhas, mesmo aquelas que fazemos aos 12 anos de idade. Acima de tudo, como o próprio Gordie Lachance deixa claro em certo ponto, Conta Comigo é uma história sobre a amizade de quatro meninos – e sobre como as amizades que fazemos nessa idade são únicas e irrecuperáveis.