As Pontes de Madison

O tipo silencioso. Aquele que pouco fala, cujo olhar franzido parece amedrontar qualquer um que tenha a intenção de iniciar uma conversa. Na garupa de um cavalo ou ainda com uma magnum .44 sempre a tiracolo, esse é o tipo Clint Eastwood: o cara que pode ser um pouco bronco, mas que faz as coisas acontecerem.

É quase chocante então, que em 1995 seja lançado As Pontes de Madison, um drama sobre um romance de quatro dias entre um fotógrafo da National Geographic e uma dona-de-casa casada, filme não só estrelado como também dirigido por Eastwood, que troca a magnum .44 por uma câmera Nikon e o silêncio taciturno por conversas cheias de significado sobre o sentido da vida. Francesca Johnson, a outra metade do longa-metragem, é interpretada por uma Meryl Streep de 46 anos – e que nunca esteve tão deslumbrante.

O projeto, que previa direção e atuação de Robert Redford antes do envolvimento de Eastwood, é a versão cinematográfica do livro homônimo de Robert James Waller, publicado em 1992. Assim como Eastwood, Meryl Streep também não foi a primeira escolha para o seu papel: inicialmente, o estúdio queria uma atriz mais jovem para interpretar Francesca.

O fato é que, depois de se assistir As Pontes de Madison, é impossível imaginar outro casal de intérpretes para os personagens. Robert Kincaid, o fotógrafo interpretado por Eastwood, se perde por entre as estradas de Madison, Iowa, e encontra a fazenda de Francesca, cujo marido e filhos foram passar a semana numa feira em Illinois. Ele procura as pontes cobertas de Madison, para fazer um artigo para a National Geographic, e Francesca acaba fazendo as vezes de guia pelas ruas-sem-nome da localidade – e da primeira à última cena, a química entre os dois é inegável.

As Pontes de Madison não é, de maneira alguma, um romance água-com-açúcar cujo público alvo consiste em mulheres de 18 a 24 anos, com a vida e todos os sonhos pela frente. A história da mulher casada que tem suas convicções – as escolhas nas quais ela baseou uma vida inteira – abaladas pela chegada de um fotógrafo quase nômade não parece adequado para ter apelo junto ao público mais jovem. Nossa história é, antes de mais nada, a narrativa de uma mulher que se vê presa a uma vida – a um marido, a um casal de filhos, à cidade pequena em que habita – que ela achava que seria diferente, que ela sonhava diferente. É quase doloroso ver Meryl Streep encarnar uma mulher que anseia por refazer suas escolhas, por correr os riscos que não correu e pegar a bifurcação na estrada que antes lhe parecia perigosa. A Francesca de Streep sofre um baque ao cruzar seu caminho com o Robert de Eastwoood, um homem que vive e vê o mundo que Francesca anseia por conhecer – mas que ela sabe, lá no fundo, que nunca conhecerá.

O filme é um palco onde Clint Eastwood e Meryl Streep nos dão uma aula sobre relacionamentos humanos, onde um mero olhar ou um simples toque é perigosamente carregado de tensão. Longe de ser mais um filme sobre um simplório caso amoroso, As Pontes de Madison é uma história que nos obriga, assim como obriga à Francesca e a Robert, a aceitar o peso das nossas escolhas – e a aprendermos a viver com elas.