Amy

Por Nicole Roth

Acostumada a emplacar sucessos com as séries de TV originais que produz para seu serviço de streaming, a Netflix também está construindo uma carreira de sucesso com os filmes que decide produzir. Amy, documentário de 2015 sobre a cantora britânica que colocou o jazz de volta às paradas de sucesso mundiais, é um exemplo dessas produções bem-sucedidas – o sucesso foi tanto que o longa-metragem faturou o Oscar de melhor documentário em 2016.

Sob direção do competente Asif Kapadia, que já havia entregado em 2010 o documentário Senna, Amy traz, além de gravações de arquivo da vida particular de Amy Winehouse e imagens de arquivo de vários canais de televisão para os quais ela deu entrevistas, também depoimentos de pessoas que participaram da vida profissional e particular da cantora, utilizados para contar a história de Amy Winehouse, desde sua caminhada para o sucesso até seus últimos momentos, cheios de escândalos amplamente cobertos pela mídia.

Justamente por causa do grande destaque que o consumo de drogas e a decadência da carreira de Amy Winehouse recebeu da mídia, por vezes se esquece da grande intérprete que Amy era. O documentário de Asif Kapadia prima, principalmente, por fazer o resgate dessa imagem esquecida da cantora. Há momentos preciosos, como uma gravação em estúdio que registra apenas a voz da cantora, dimencionando o quão talentosa a jovem era. Buscando registros desde a infância até o final da vida de Amy, o documentário ganha cargas dramáticas assim que chega ao ponto da história em que Amy passa a fazer entrevistas na televisão – em uma delas, a cantora chega a dizer que não acha que saberia lidar com o sucesso. Sabendo como sua carreira terminou, a declaração soa quase agourenta.

Outro acerto é não fugir das polêmicas – o uso de drogas, a influência cada vez pior do namorado e, mais tarde, marido, com quem Amy dividia o hábito de consumir drogas, e até mesmo a relação conturbada que a cantora tinha com o pai. Ao fim, o documentário obtém sucesso – e pode sim ser considerado digno do Oscar que ganhou – por conseguir formar um retrato humanizado e sincero da vida da cantora.