A Lista de Schindler

Por Nicole Roth

Certas histórias, de tanto serem repetidas, transformam-se em clichês, em contos cuja satisfação ou emoção geradas são garantidas – o que por vezes faz com que sejam “histórias batidas”, que acabam soando como mais do mesmo. O Holocausto inevitavelmente cai nessa categoria, daquelas histórias reais que já foram contadas de novo e de novo, mas que de vez em quando reaparecem no cinema.

Uma dessas histórias é contada em A Lista de Schindler, a história real de um empresário alemão que se torna um improvável protetor de judeus, após transformar sua fábrica em uma espécie de porto seguro para eles, durante a ocupação da Polônia pelos nazistas, na Segunda Guerra Mundial. O longa, dirigido por Steven Spielberg – que, vale dizer, tem ascendência judia – é baseado na história real de Oskar Schindler, que conseguiu fazer com que cerca de 1100 judeus escapassem de Auschwitz. Esse é um longa metragem singular na carreira de Spielberg por uma série de razões: foi o filme que (merecidamente) finalmente lhe rendeu o Oscar de Melhor Direção, é filmado totalmente em preto e branco (sendo, inclusive, o filme em preto e branco mais caro que já foi feito até hoje) e também teve todo o dinheiro de royalties que normalmente seria do diretor, revertidos para a Shoah Foundation (que coleta registros e testemunhos de sobreviventes de genocídios no mundo todo, inclusive do Holocausto), por insistência do próprio Spielberg.

O mais impactante, se comparado às demais obras de Spielberg é o tom pesado e sombrio, de acordo com o tema da fita. Não há espaço, neste filme, para um respiro ou alívio cômico: são mais de três horas de uma angústia constante, que culmina em uma cena de emocionar o mais insensível dos homens, quando Schindler finalmente se dá conta do óbvio: ele simplesmente não será capaz de salvar todos os judeus. Não era humanamente possível. É nessa cena, quando o Schindler de Liam Neeson se deixa cair em desespero, que é quase impossível de compreender como que Neeson não levou o Oscar daquele ano (para o qual foi indicado). Quem também foi indicado e poderia facilmente ter levado o prêmio, desta vez por ator coadjuvante, é Ralph Fiennes, que em A Lista de Schindler dá vida a um dos soldados nazistas mais cruéis e arrepiantes que o cinema já viu. Suas cenas são as responsáveis por boa parte do clima ameaçador que permeia o longa metragem.

A Lista de Schindler é um registro cru, bem conduzido e produzido, de uma das mais conhecidas e recontadas atrocidades da História da humanidade. É também prova de que histórias como essa merecem sim ser contadas de novo e de novo. A conclusão de A Lista de Schindler é agridoce, deixando o espectador com apenas uma certeza: é preciso, sempre, lembrar que o Holocausto aconteceu, há não tanto tempo atrás, para que a humanidade não deixe que algo assim aconteça novamente, nunca mais.