A Lenda

Por Nicole Roth

É difícil conciliar a imagem de Tom Cruise com um filme de fantasia. Ficção científica ainda vá lá, já que muitos descambam para os filmes de ação aos quais o astro é normalmente relacionado – com a exceção de Entrevista com o Vampiro, de 1994. Falar de uma empreitada fantasiosa conjunta entre Tom Cruise e Ridley Scott, conhecido por filmes como Blade Runner, então, soa ainda mais estranho. Mas é exatamente isso que A Lenda é.

Longa metragem lançado no ano de 1985, quando Tom Cruise ainda não havia adquirido a fama de astro de ação que tem hoje – seu grande avanço rumo ao estrelato viria um ano mais tarde -, coloca o ator na pele de Jack, um jovem que vive em uma floresta localizada num mundo tocado pela magia. Fadas ali não só são reais como são levadas a sério. Como em todo conto de fantasia, há a figura da princesa: Lili, o filme faz questão de nos mostrar desde seu início, não é uma princesa dada aos caprichos da realeza, mas uma moça que se importa com seus súditos e com a vida da floresta. É essa adoração pela floresta que liga Lili a Jack e que fundamentalmente causa o conflito do filme: Jack mostra à princesa dois dos seres mais raros daquela terra: unicórnios. Esses animais, Jack explica, não devem ser tocados pelos seres humanos – eles são puros e “não há maldade neles”. Em uma sequência de eventos quase bíblica, Lily toca o animal e causa uma catástrofe: as forças das trevas daquele mundo são que freadas apenas pela existência dos unicórnios conseguem matar um dos animais graças à distração providenciada pela princesa. A partir daí, o filme se desenvolve na busca de Jack e dos demais seres mágicos da floresta pela proteção do último unicórnio e resgate do seu mundo – e de Lili.

De muitas formas, esse não é um filme fácil. Até a atuação de Tom Cruise parece um pouco afetada, de início – algo que visivelmente evolui ao longo do filme. Porém, para aqueles que buscam uma boa fantasia, A Lenda não decepciona: a apresentação desse universo particular e fantasioso ao espectador é feita de forma correta – o público entende, em poucos minutos, qual é a mecânica daquele mundo e quais as regras que o regem. Há verossimilhança interna em A Lenda, segundo a qual todos os acontecimentos se desencadeiam na história de forma coerente com aquilo que foi apresentado ao espectador.

Talvez o ponto alto da fita, porém, seja o aspecto técnico. A maquiagem prostética aplicada nos atores é excepcional, e é a chave para fazer o público acreditar que aquele mundo existe. É a característica palpável de todos os cenários e dos personagens, até mesmo os duendes, que faz esse ponto fora da curva nas carreiras de Cruise e Scott funcionar.