A Grande Aposta

Por Nicole Roth

O diretor Adam McKay tinha a missão de explicar ao mundo aquilo que nem sequer os norte-americanos entenderam direito: como e por que a crise que levou à recessão norte-americana em 2008 aconteceu. E é esse o seu maior feito na direção de A Grande Aposta, longa que ganhou o Oscar pela categoria de melhor roteiro adaptado – o filme é baseado no livro de Michael Lewis.

A Grande Aposta é acima de tudo um filme surpreendente. Surpreende ao fazer um espectador que não é economista (e, no caso do brasileiro médio, que pouco entende do mercado imobiliário norte-americano) compreender o que significam os termos indecifráveis que os personagens usam, surpreende com uma montagem ousada, usando filmagens da vida real, e surpreende ao dar carga dramática aos seus personagens, fazendo deles seres humanos frágeis, com quem o público se identifica.

Um dos pontos positivos do filme é o elenco, a começar por Christian Bale, que interpreta Michael Burry, empresário que é o primeiro a fazer a descoberta de que os norte-americanos não estão pagando suas hipotecas – o que eventualmente faz a economia do país quebrar. Burry tem Síndrome de Asperger, o que dificulta qualquer tipo de interação humana que ele possa ter – momentos em que a interpretação de Bale brilha. Ele decide pedir aos bancos que façam uma apólice de seguros para o caso do mercado imobiliário falir – ou seja, ele aposta contra o mercado americano, daí a grande aposta do título do filme. Ryan Goslin é um desses bancários contatados por Burry – estranhando a atitude do empresário, ele resolve checar os pagamentos das hipotecas e também descobre a eminente crise. A leveza com que o ator interpreta seu personagem, um homem totalmente sem escrúpulos, cujo único interesse é fazer dinheiro, impressiona. Já a Steve Carell coube o papel de um corretor estressado e pessimista, que descobre por acaso a batata quente que era a economia americana naquele período. Seu personagem representa, até certo ponto, o cidadão comum, que fica irado diante da corrupção e ganância dos grandes banqueiros americanos. O personagem ainda carrega um drama pessoal que, no fundo, diz muito sobre o momento da economia que é retratado no filme.

A Grande Aposta também foi indicado ao Oscar de melhor edição, e não é por menos: frases de um personagem são completadas por outras, dando um bom ritmo ao filme. A grande sacada, porém, são as inserções de pessoas reais (a atriz Margot Robbie aparece para explicar um conceito do mercado imobiliário, o economista Richard Taler explica uma teoria da economia comportamental), o que só serve para chamar a atenção do espectador para o aspecto mais assustador do longa: isso tudo aconteceu de verdade.