Projeto do Facebook gera debate sobre educação de seus novos usuários

Internet.org | Há necessidade de educar usuários sobre os cuidados no uso da internet

O acesso à informação é essencial para a vida do cidadão. Desde conhecimento sobre seus direitos, notícias sobre o que acontece na sua comunidade até acontecimentos mundiais, ter a capacidade (e a oportunidade) de se manter informado – e, na palavra de ordem do momento, conectado – é o que determina a visão de mundo do cidadão. Como uma alternativa para mudar esse cenário, em que apenas alguns fazem uso da internet, surgiu o Internet.org.

O projeto Internet.org, a mais nova proposta de Mark Zuckenberg, mente brilhante por trás do Facebook, para levar o acesso à internet a populações que moram em localidades pobres ou isoladas, já causa polêmica entre os brasileiros antes mesmo de chegar no país – justamente por mexer com o conteúdo que poderá (ou não) chegar às mãos dessas populações carentes.

O anúncio da chegada da intenet gratuita, fornecida pelo Facebook ao Brasil, feito em abril pela presidente Dilma Rousseff, provocou reações como a da PROTESTE e outras entidades, que se manifestaram, através de uma carta, contra a iniciativa. De acordo com as entidades, o projeto viola direitos assegurados pelo Marco Civil da Internet, como a privacidade, a liberdade de expressão e a neutralidade da rede.

A preocupação que surge agora diz respeito à postura que esses novos usuários – potencialmente, 3 bilhões de pessoas – terão em relação a manterem sua privacidade quando utilizando a rede. A coleta de dados é potencializada no Internet.org, já que seus organizadores declararam que não apoiam o uso de sistema de criptografia (que protege as informações) para transmissão de dados – qualquer empresa que estiver interessada em desenvolver apps para o Internet.org terá de obedecer às restrições do projeto, o que inclui não utilizar os sistemas de criptografia.

Restrições técnicas e de conteúdo

A grande vantagem da internet como fonte de informação, em relação à televisão, é que o usuário “faz sua própria programação”: não somos mais reféns do canal X ou Y. Porém, o Internet.org, pelo qual os usuários terão acesso apenas ao Facebook e a sites parceiros da empresa, restringe drasticamente o “livre acessso” que as pessoas terão da internet. As restrições técnicas – vídeos e imagens em alta resolução diminuiriam a velocidade da rede – também limitam a experiência dos internautas.

Novos usuários significam mais lucro para o Facebook

O Facebook espera engajar, até novembro, 3,5 mil desenvolvedores brasileiros para trabalhar em projetos compatíveis com a plataforma Internet.org.
É importante lembrar que o Facebook é um negócio como qualquer outro, que precisa gerar lucros. Como a fonte de renda da empresa são os dados das pessoas – que criam um perfil de consumidor, perfil esse que é explorado pelos anunciantes do site -, é do interesse da empresa angariar novos usuários.

Esses novos usuários não estão inseridos na cultura virtual. A maioria desconhece os perigos que vêm atrelados à exposição de dados pessoais na rede. É preciso educar esses usuários, para que eles possam ter uma experiência de conectividade segura. É possível dizer que mesmo usuários “veteranos” da internet ainda estão aprendendo as regras do jogo: por exemplo, uma pesquisa da Open X-Change, que questionou pessoas dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, revela que apenas 18% dos entrevistados no Reino Unido sempre leem as condições e termos de uso nos websites, contra 28% dos norte-americanos e 37% dos alemães.